sexta-feira, 15 de agosto de 2014

URBE DE LUZ TRANSFUSA


                        Para Agnaldo (Siri) Azevedo, in memoriam

...tufos amarelos / jorram de fímbria efervescente
ondas de cor muito mais que arpejos
a cidade desfolha-se em mugidos
hemoptises de ouro muros lavam
farmácia líquida justo a inundar
claustros pátios
                            iriadas praças
                                                  e ao fim praias
mercúrio aí a escorrer de rota veia

desbordantes muito mais que solfejos
alaridos na encosta avarandada
leque de velas
                     ao largo lúdicas
                                               tufos amarelos
jorram de fímbria agora efervescente
quem sabe ecos de claustrais batalhas

ah, talvez bizâncio entornado tenha
vinhos de missa sangue de mosteiros
que em palácio beberam sentinelas
sorvendo taças e cruzando aljavas
agora dormem
                          agora dança
salomé de curvas sinuosas em palco
de cristal que urge hipnotizar o antipas
bem ali guardado
bem ali sentado
no seu trono de pórfiro e ametista
ao bruxulear de lâmpadas de azeite
música a derramar-se das estrelas
do fundo lasso lá onde a encosta doira-se


(sol ora revérbero em tela
de passado não passado)

ávidos rostos perscrutam
no horizonte ausentes naus
sob a luz que sugere penitências
nostálgica de flagelos

jardim de miosótis hortênsias muitas
despejados da abóboda replicam
vento solteiro a propagar canções
tangendo violões sulcando areia

logo angustiado som
sobe incrustado de ônix
de laca império vasto
ornado de luz lívida

súbito carne viva de fósforo transida
ou mugir de harpa em crânio paranóico
subindo por um estuar de rampas
a arder num céu de cânhamo vermelho

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