Estamos sós, eu e tu. E o mar, testante / Do que deixaram tardos marinheiros / Exaurido me apalpo. Sei que existes... |
Costumo
amanhecer, o céu vislumbro;
O mar
embaixo muge sossegado,
A orla
estriada rege o som das nuvens;
O vento
lança-me aos olhos (o rosto bebe)
O que
sobra das ondas, claro dorso.
Eu que te
procurei em luas, sol,
Mar e
águas todas só agora te encontro,
No ardor
dos pelos, fulgurantes olhos,
Animal
sobre o oceano debruçado,
Na
postura de alguém que sempre aguarda.
Exaurido
me apalpo. Sei que existes,
De ventre
aberto ao mar, de espera rude.
Navegadores
chegam, embriagados
De sonho,
de cobiça e velhas perdas.
Sei que
te ornam algas; vieste do Oriente.
Ou do
Ocidente vens, em luz de pérola?
Que me
enchem de desvairos cores novas.
A
alvorada me beija? Nem sei se a tenho
Entre
teus braços – trucidantes hastes,
Enlaçando
mastros, extraviadas quilhas.
Foi boa a
noite dentre pesadelos
Ruminados
sobre teus passos, tua
Lenta
navegação por entre torres
Em que te
amarram cordas de silêncio.
Dorme a
amada; o mar urde laborioso.
Estamos
sós, eu e tu. E o mar, testante
(Leguleio
de aromas e vivências)
Do que
deixaram tardos marinheiros
Sobre a
terra límpida, mas exausta,
Os bens
que, de alma apenas, pó restaram.
O mar é o
que te basta; é a tua culpa.
Por isso,
nada esqueces, nada passa:
A memória
a acender-te o labirinto,
A luz a
reavivar o antigo rosto,
Espuma a
te invadir adusto ventre.
Tua baía,
escancarada porta
A quem te
penetre água e terra adentro
– peixes,
pássaros, luas navegantes –,
A boca
lúbrica, emitindo toques
De
tambores também lascivos, urra.
Fica em
silêncio que já te cubro, égua
Fogosa,
imersa em toldo florescente:
Te pego
pelo casco, jade puro;
Te puxo
pelas crinas rutilantes;
Te
arranco das encostas em que pastas.
Vem, vem;
se és de ouro, risco-te nas pedras.
Vem; se
és de fogo, banho-te no mar.
Vem; se
és de lua, lanço-te no céu.
Urras;
ah, pela anca afinal peguei-te,
Égua
translúcida da madrugada.
E após,
na lassidão que disto sobra,
Batida
pela brisa que ressoa
No
côncavo de uma onda, desvaneces,
Além do
cais onde dormitam barcos.
O mar te
trouxe; estrela, o mar te leva.
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