SOTEROLIMOS
A Jeovah de Carvalho
A cidade
distende o couro crespo
imerso nos gemidos dos telhados;
imerso nos gemidos dos telhados;
janelas e
portas (fanais da noite),
despejando
lamentos sobre pedras,
saem do
escuro por uma luz sonora
por onde
viaja a goiva do grave Hansen,
retorcem-se
cruciais chapas de Mário,
ladeiras
onde versos de Godô
formam
lagos de esperma flutuante.
Bordéis
que torres sacras abençoam
(tudo o
que sabemos a fé redime)
nas horas silentes, escoando clamor,
nas horas silentes, escoando clamor,
soluço e
preces sobre frontes boêmias;
serenas
lanças de astros que ornamentam
recintos
de dolente passar, ó
pontas
soberbas contra o choro agudo
de
sacrossantos rostos mendicantes,
faces
roídas de infinita espera.
Eretas
torres de azulejaria
enferma
(e as luxuriosas cornijas?),
que
perscrutais pelo céu de amaranto
para
antepasto na manhã de ausências?
Que
anseios guardais em pedra de lioz?
Aspa da
noite, deusa de chavelho,
a lua vem
com o ventre pressuroso,
as
ladeiras se enroscam e há um torpor
que
amortece o tambor nos cabarés.
Tudo isto
é obra do oceano que lá embaixo
rola
parlamentando com os rochedos.
Lixo da
rua, o mesmo dos navios
que
lançam do mar tudo que emporcalha
a fímbria
muda, a fímbria que admiramos,
dos
administradores prometidos
gestos
nos poupa, e que só morte esconde.
Tudo é
inexorável, e nós sabemos:
um pedaço
de mar é o que nos sobra.
A cidade
adormece. Lábios boêmios
se cruzam
sob marquises enfeitadas
com a luz
que salta da burocracia.
Lentos
lagos ali de morna esperma,
corredores
de espelhos, qualquer coisa
que venha
e nos livre das asperezas.
E logo
esta mulher que está de costas,
lábios
partidos, ombros nus, cidade
descarnada,
a pele colada aos ossos.
O
clamoroso ventre da montanha,
na noite
de gemidos, no cassino,
mulheres
seminuas, apostas altas;
na rua
iluminada, bondes rangem,
levando
bêbados; as rotativas
despacham
o noticiário em pacotes:
povos
guerreiros de sangrentas vozes,
os pobres
nas manchetes de polícia,
As miúdas
intrigas de governo.
A vida
civilizada de uns poucos
o porto
despeja em caixote e pipa.
Sabemos
quem são os ricos, o infeliz
amanhã e
o próximo morto; sabemos
que tudo
permanecerá, ninguém
(gente ou
jornal) pergunta se há razão.
Passa a
noite, e a manhã há de passar.
A tarde
trará cores renovadas,
afastando
o que dantes era dúvida.
Os
habitantes abandonarão
a pompa
dos festins; a roleta, o álcool.
Saímos
todos a praticar esportes.
Os
capitães estão em polvorosa:
arquivaram
as velhas ambições,
o momento
não era para festas.
Apenas a
cidade amanhecera,
navios
foram na costa afundados.
É a
manchete do dia, certamente.Salvador - Ponta de Humaitá, Comércio, Porto e Cidade Alta |
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