La princesa está pálida. La princesa está triste.
Rubén
Darío
Roy Lichsteinstein: pop-art baseada no imaginário das HQ |
A
princesa recortada
De uma história em
quadrinhos,
Sabemos
que vai tecendo
Sua coroa de espinhos.
Não a que
leva ao calvário,
A das aflições do lar,
Tecida de
gelo e sombra
De serão hospitalar.
A
princesa não se encerra
Em uma torre de luz.
Não é a
triste beleza
Que a um artista seduz,
Tampouco
a etérea figura
Que tocou Rubén Darío,
Também
não é das que somem
Nas águas frias de um
rio,
Ou que se
drogam, a rondar,
Lúcidas, os bares
boêmios,
Que lutam
noites adentro
Pela conquista de
prêmios.
É mais de
andar por butiques,
Perder-se por shopping
centers,
Escolher
bijuterias,
Bugigangas inocentes,
Que ao
corpo e ao belo servem,
O novo, nunca o que é velho.
Está a
princesa na calma
Do dia a olhar-se no
espelho.
Seja com
Roy Lichtenstein,
Ou invenção de Andy
Warhol,
O claro
rosto verbera:
Venha o sol, basta de
dor!
As
sobrancelhas enruga,
Por entre os vidros da
tarde.
Não é uma
atriz numa cena
Nem um candelabro que
arde.
Não bebe
nem fuma, nada
Vinga que manche o
verniz
Da
iluminada aparência.
Ai de quem passa e lhe
diz
Que é
bela, quem cumprimenta
O pálido rosto, ponha
Luz e
frescor no jardim.
Pode causar-lhe
vergonha.
Ora, a
princesa se basta
No vidro baço da calma
Em que se
mira e mergulha
O que abrasa o fundo da
alma.
Perpetua-se
a princesa
De si mesma prisioneira:
Humano
signo blocado,
Como peixe numa fieira.
Ela é,
entretanto, mulher.
Não trilha novos
caminhos,
Nem quer
sair deste mundo
Que é de uma história em
quadrinhos.
(FM, 22 out. 2005)
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