quarta-feira, 13 de agosto de 2014

ITABUNA, 1950


(Bar, Jazz, Bogart)
Panorama de Itabuna moderna e o seu Rio Cachoeira, que a corta no sentido Oeste-Leste

Itabuna, Praça Adami e antiga Rua da Lama (Comércio)
                  Tinha tempo bastante a desfrutar.
                                                           K. Kaváfis

Baco adora quando desço a praça
Adami, caminho do Elite Bar.
Lá (no bar de Emetério), busco o morno
canto, próximo às mesas da sinuca;
observo os jogadores do apostado,
os ases das tacadas. O maior,
Zito Maleiro, já tuberculoso,
captura a solidão da bola sete;
o infinito resvala sobre o verde
espaço de luz acabando o jogo.

No ambiente etéreo, Raleu, um Gable
de cabaré no rosto juvenil,
confere ares de sonho ao botequim.
O garçom vem. Peço um vinho do Porto.
Ali, flagro o soluço do gargalo,
o intumescimento da taça e o rubro
trincolejar do vidro satisfeito.

As vitrinas do balcão, as prateleiras
alojando garrafas de bebidas.
A roda de gamão; o espelho e o rádio
Philips. Na sequência das notícias,
um julgado de saxes e trompete:
Duke Ellington, atacando “Perdido”,
acende um risco de néon na noite.

Sorvo o vinho do Porto, calmamente.
Atento o ouvido para o andar de cima,
ouço o ruído abafado da roleta
na sensação das coisas clandestinas.
Chegaram os amigos. Planejamos
o que faremos do frescor da noite.
Saímos. Vamos pela Rua da Lama,
em direção à Zona, ao Bar de Juca.
Lá ficamos até de madrugada.

Por que pensar na ciência dos abismos,
se temos muito tempo pela frente?
Antes fazemos hora, indo ao cinema.
Subimos a praça. Nunca perdemos
em nossa idade um filme de Bogart.



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