quinta-feira, 14 de agosto de 2014

METÁFORAS DO AMOR DOIDO

Paul Delvaulx (1897.....), Passeio nas Ruas, óleo sobre tela


                        Tantum in amore preces et benefacta valent.
                        (No amor, só as súplicas e os favores valem).
                                                           Propércio (Elegias)


Quando da noite sorvo a doce calma
e de mim somem sombras dolorosas,
eu cogito e me indago se tens alma
ou se és puro animal da cor das rosas.

Medito sob as asas poderosas
de um ser inexistente que me acalma,
se até no mar da ausência colho rosas,
gelo do polo de ti me queima a alma?

Se tens garras ou bico, não sei. Brilha
o vulto num relvado, numa trilha.
Se animal que me aguarda, antes me ponho

caçador já vencido pela imagem:
súbito decifrado o ser selvagem,
temo que a morte seja o último sonho.

(Salvador, domingo, 27 mai. 2007)


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