A cidade bebe o zarcão dos longes. / A noite se derreia com fadiga. / Em louro estuário de verão... |
A Afonso
Maciel Neto
“(...) de
maneira que, quando iluminadas ao sol
(...), e vistas contra o fundo azul
claro do céu
no horizonte, mais parecem
sombras
que
construções reais.”
Charles
Darwin, 1836 (sobre São Salvador da Bahia).
“(...) o
movimento de embarcações no porto
e a fluidez, aquática, esplendendo na
luz que lhe irisa o dorso tranquilo.”
Godofredo Filho,
1979.
Mamífero
de Zeus, Itaparica,
Com as
vértebras à luz (chão do reflexo),
Converte-se
em cristais. O lábio prova
(Olhos
lambem) corpos antes desertos.
A tarde é
sábia; a luz, potável. A ilha
Arroja ao
horizonte de peixe e nuvens
Ardente
fuligem. Lá, mais adiante,
A cidade
bebe o zarcão dos longes.
O espírito
ali pousou suas asas: pés
Em forma
de corolas sobre templos
Assentam-se
no vidro da distância
Que é por
onde espumeja o paraíso.
A água
drapeja verdes chamalotes,
Que ouro
já anuncia e o céu rebate;
Na parede
rochosa em traços álacres,
A noite
se derreia com fadiga.
Nem mesmo
foi-se o inverno; a sombra morde
As
emblemáticas ladeiras, torres
Emaranha
e invade mar de telhados.
O vento
se apaga ao clarão de vozes.
Escamado
mar que sobre pedras ruge
Cobre de
luz o dorso do mamífero:
Pegadas
de estrelas, passantes rápidos,
Em louro
estuário de verão precoce.
A ilha já
pouco importa (o que está em frente
Ao iriado
maciço arquitetônico),
Mas o
espelho, onde rutilante muge
A manada
de curvas; retas sobem
Como
punhais atravessando a umbela
Dourada
que afugenta o azul e lança
Vermelhos
na parede, onde reluz
A voz da
pedra, a cor, na dor da vida.
Tudo o
que acende a vasta geometria:
Azulejos,
na febre do momento,
E grades,
por onde o metal conspira,
Cravam no
azul retalhos de memória.
Não há
pássaros, só cor; porto abaixo,
Bambos
mastros, barcos em despedida,
A muralha
enferma de São Marcelo
E a água
que viaja amamentando a ilha.
Vadia no
ermo, a luz agora geme;
Logo
desencanta o mistério, quando
A mão de
chumbo avança pelo golfo,
Deixando
para trás a franja iluminada.
Obsessão
do passar, marcha do augúrio
De feroz
alquimista, o flamejante
Perfil,
que espeta o céu, sereno, sonha.
Todos
choram. Oram. E eu me curvo.
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