CARPE DIEM
– por Antônio Cícero*
UM DOS poemas mais famosos do poeta romano Horácio é a ode 1.11. Nela, dirigindo-se a uma personagem feminina, Leucônoe, o poeta lhe diz que não procure adivinhar o futuro:
Não interrogues, não é lícito saber a mim ou a ti
que fim os deuses darão, Leucônoe. Nem tentes
os cálculos babilônicos. Antes aceitar o que for,
quer muitos invernos nos conceda Júpiter, quer este último
apenas, que ora despedaça o mar Tirreno contra as pedras
vulcânicas. Sábia, decanta os vinhos, e para um breve espaço de tempo
poda a esperança longa. Enquanto conversamos terá fugido despeitada
a hora: colhe o dia, minimamente crédula no porvir.
Em latim:
[Tu ne quaesie:ris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.]
A frase “carpe diem” tornou-se um aforismo epicurista e um tema poético a que inúmeros poetas recorrem. No Brasil, por exemplo, Gregório de Matos (1636-1696), imitando um famoso poema de Góngora, diz, em soneto dedicado a uma “discreta e formosíssima Maria“:
Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol, e o Dia:
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trata a toda ligeireza
E imprime em toda flor sua pisada.
Ó não aguardes que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
O soneto mencionado de Luis de Góngora (1561-1627), uma obra-prima, é o seguinte:
Mientras por competir con tu cabello,
oro bruñido al sol relumbra en vano;
mientras con menosprecio en medio el llano
mira tu blanca frente el lilio bello;
mientras a cada labio, por cogello,
siguen más ojos que al clavel temprano;
y mientras triunfa con desdén lozano
del luciente cristal tu gentil cuello;
goza cuello, cabello, labio y frente,
antes que lo que fue en tu edad dorada
oro, lilio, clavel, cristal luciente,
no sólo en plata o viola troncada
se vuelva, mas tú y ello juntamente
en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.
O poeta Mário Faustino (1930-1932, num desastre aéreo) escreveu o seguinte belíssimo soneto chamado “Carpe Diem“:
Que faço deste dia, que me adora?
Pegá-lo pela cauda, antes da hora
Vermelha de furtar-se ao meu festim?
Ou colocá-lo em música, em palavra,
Ou gravá-lo na pedra, que o sol lavra?
Força é guardá-lo em mim, que um dia assim
Tremenda noite deixa se ela ao leito
Da noite precedente o leva, feito
Escravo dessa fêmea a quem fugira
Por mim, por minha voz e minha lira.
(Mas já de sombras vejo que se cobre
Tão surdo ao sonho de ficar — tão nobre.
Já nele a luz da lua — a morte — mora,
De traição foi feito: vai-se embora.)
Mas Horácio, em outra ode igualmente famosa, a 3.30, afirma que suas Odes sobreviverão às milenárias pirâmides:
Erigi um monumento mais duradouro que o bronze,
mais alto do que a régia construção das pirâmides
que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Áquilo
nem a inumerável série dos anos,
nem a fuga do tempo poderão destruir.
Nem tudo de mim morrerá, de mim grande parte
escapará a Libitina: jovem para sempre crescerei
no louvor dos vindouros, enquanto o pontífice
com a tácita virgem subir ao Capitólio.
Dir-se-á de mim, onde o violento Áufido brama,
onde Dauno pobre em água sobre rústicos povos reinou,
que de origem humilde me tornei poderoso,
o primeiro a trazer o canto eólio aos metros itálicos.
Assume o orgulho que o mérito conquistou
e benévola cinge meus cabelos,
Melpómene, com o délfico louro.
[Exegi monumentum aere perennius
regalique situ pyramidum altius,
quod non imber edax, non aquilo impotens
possit diruere aut innumerabilis
annorum series et fuga temporum.
non omnis moriar multaque pars mei
vitabit Libitinam: usque ego postera
crescam laude recens, dum Capitolium
scandet cum tacita virgine pontifex:
dicar, qua violens obstrepit Aufidus
et qua pauper aquae Daunus agrestium
regnavit populorum, ex humili potens
princeps Aeolium carmen ad Italos
deduxisse modos. sume superbiam
quaesitam meritis et mihi Delphica
lauro cinge volens, Melpomene, comam.]
A própria admiração que a ode continua a suscitar, parecendo confirmar o vaticínio de Horácio, aumenta essa admiração.
Ou seja, enquanto na ode 1.11 o poeta recomenda ignorar o futuro, na ode 3.30 ele exalta o futuro dos seus poemas. Que haja uma contradição aqui não é nenhum problema. Diferentemente dos textos teóricos, os poéticos podem contradizer-se, ainda que sejam do mesmo autor, sem que, com isso, sofram o menor arranhão.
Se ambos forem bons, então, ao ler o primeiro, concordamos inteiramente com ele; ao ler o segundo, é com este que concordamos inteiramente, sem deixar de continuar a concordar com o primeiro. Ambos podem ser profundamente verdadeiros ou reveladores. Um poema é capaz de contradizer a si próprio e ser uma obra-prima: ele pode até ter que se contradizer, como o “Odeio e Amo” (“Odi et amo”), de Catulo, para vir a ser uma obra-prima.
De todo modo, o poeta Haroldo de Campos (1929-2003) escreveu um magnífico poema, intitulado “Horácio Contra Horácio”, que diz:
ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide
ao tempo resistente um monumento
mas gloria-se em vão quem sobre o tempo
elusivo pensou cantar vitória:
não só a estátua de metal corrói-se
também a letra os versos a memória
— quem nunca soube os cantos dos hititas
ou dos etruscos devassou o arcano?
o tempo não se move ou se comove
ao sabor dos humanos vanilóquios —
rosas e vinho — vamos! — celebremos
o instante a ruína a desmemória
Não só, portanto, aos poetas é lícito contradizerem-se uns aos outros ou a si próprios, tanto em diferentes poemas quanto no mesmo poema, como tais contradições podem constituir o motivo de um poema.
Observo, porém, que a ode 1.11 pode também ser lida de modo que não necessariamente contradiga a ode 3.30. Digamos que a concepção de poesia subjacente à ode 3.30 seja que, dado que o grande poema vale por si, ele é, em princípio, indiferente às contingências do tempo. Sendo assim, não se concebe um tempo em que tal poema venha a caducar.
Logo, mesmo reconhecendo a possibilidade de que os textos se percam, talvez a verdadeira razão do orgulho de Horácio seja o fato de que suas odes intrinsecamente merecem existir. Isso quer dizer que elas merecem existir AGORA.
E merecem existir agora, seja quando for agora: seja quando for que alguém diga ou pense: “agora”. É desse modo que, precisamente ao celebrar “o instante a ruína a desmemória”, o poema se faz eterno agora. Nesse sentido, apreciá-lo é colher o dia: “carpere diem”.
*Antonio Cicero (Correia Lima), nasceu no Rio de Janeiro, 6 de outubro de 1945 é compositor, poeta, crítico literário, filósofo e escritor brasileiro. Em 10 de agosto de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Esse artigo do poeta Antônio Cicero foi originalmente publicado 6 de fevereiro de 2010, na coluna do autora na “Ilustrada”, da Folha de São Paulo. Está disponível no blog Acontecimentos.
ODES DE HORÁCIO, COM OUTROS TRADUTORES
As Odes, do poeta romano Horácio, são consideradas um verdadeiro marco da poesia lírica ocidental. Divididas em quatro livros, elas reúnem 103 poemas escritos originalmente em latim no século I antes da Era Comum.
ODES (1.1, 1.5 E 1.14)
(Tradução Beethoven Alvarez)Publicadas em: Tradução poética de poesia latina: exercícios e práticas. In: SILVA, A.C. et alii (Orgs.). As
fronteiras da Antiguidade Clássica... Rio de Janeiro: Metáfora, 2017, p. 318-331.
1.1
Maecenas, atauis edite regibus,
o et praesidium et dulce decus meum:
sunt quos curriculo puluerem Olympicum
collegisse iuuat, metaque feruidis
euitata rotis palmaque nobilis 5
terrarum dominos euehit ad deos;
hunc, si mobilium turba Quiritium
certat tergeminis tollere honoribus;
illum, si proprio condidit horreo
quidquid de Libycis uerritur areis; 10
gaudentem patrios findere sarculo
agros Attalicis condicionibus
numquam demoueas, ut trabe Cypria
Myrtoum pauidus nauta secet mare;
luctantem Icariis fluctibus Africum 15
mercator metuens otium et oppidi
laudat rura sui, mox reficit rates
quassas, indocilis pauperiem pati;
est qui nec ueteris pocula Massici
nec partem solido demere de die 20
spernit, nunc uiridi membra sub arbuto
stratus, nunc ad aquae lene caput sacrae;
multos castra iuuant et lituo tubae
permixtus sonitus bellaque matribus
detestata, manet sub Ioue frigido 25
uenator tenerae coniugis inmemor,
seu uisa est catulis cerua fidelibus
seu rupit teretes Marsus aper plagas.
Me doctarum hederae praemia frontium
dis miscent superis, me gelidum menus 30
Nympharumque leues cum Satyris chori
secernunt populo, si neque tibias
Euterpe cohibet nec Polyhymnia
Lesboum refugit tendere barbiton.
quod si me lyricis uatibus inseres, 35
sublimi feriam sidera uertice.
1.1
Mecenas, de real linhagem descendente,
oh! minha proteção, minha querida honra:
há alguns a quem o pó olímpico, nas corridas,
levantar os apraz — a meta com as rodas
em brasa ultrapassada —, e a palma da vitória, 5
como donos do mundo, os conduz entre os deuses;
a um, se a turba dos inconstantes cidadãos
disputa para alçar três vezes magistrado;
a outro, se armazenou no seu próprio celeiro
cada grão que varreu dos canteiros da Líbia; 10
quem se alegra em sulcar com arados os pátrios
campos, mesmo com o ouro ofertado do Rei Átalo,
nunca demoverás para em cíprio madeiro,
como pávido nauta, o Mirtoo singrar;
enquanto o Áfrico vento aspera as ondas de Ícaro, 15
temente, o mercador louva o repouso e os campos
da cidade natal, depois repara as naves
quebradas, não sujeito a sofrer da pobreza;
há quem nunca despreza um copo, um velho Mássico,
nem reservar à folga uma parte do dia 20
despreza, agora sob o verde medronheiro
deitado, agora em foz gentil de água sagrada;
a muitos lhes apraz o combate e da tuba, em
meio à corneta, os sons, e as guerras, pelas mães
odiadas; mantém-se atento sob o frio 25
o caçador, da tenra esposa imemorado:
ou a corça pelos cães fiéis foi divisada,
ou o marso javali irrompeu as finas redes.
A mim coroas de hera – em frontes sábias, prêmios –
mesclam-me aos deuses do alto, a mim o bosque gélido 30
das Ninfas e os corais suaves com os Sátiros
separam-me do povo, acaso se nem das tíbias
Euterpe se abstiver e se nem Poliímnia
rejeitar-se a tanger a cítara de Lesbos.
Porém se tu me incluis entre os líricos vates, 35
tocarei com cabeça erguida as estrelas.
1.5
perfusus liquidis urget odoribus
grato, Pyrrha, sub antro?
cui flavam religas comam,
simplex munditiis? heu quotiens fidem 5
mutatosque deos flebit! ut áspera
nigris aequora ventis
emirabitur insolens,
qui nunc te fruitur credulus aurea,
qui semper vacuam, semper amabilem 10
sperat, nescius aurae
fallacis. miseri, quibus
intemptata nites! me tabula sacer
votiva paries indicat uvida
suspendisse potenti 15
vestimenta maris deo.
1.5
Que jovem cheio de graça, em perfumes banhado,
deseja-te assim, Pirra, em mil rosas deitado,
numa doce gruta? Tu enfeixas
a quem tuas louras madeixas,
com singelo primor? Ah!... a crença em ti quanto 5
chorará e infiéis os deuses. Com espanto
como admirará negros ventos
cresparem mares violentos,
quem te desfruta agora e crê no teu valor,
quem sempre teu dispor espera, sempre amor, 10
sem saber da brisa falaz.
Ah!... Tão infelizes aos quais
brilhas sem ser tocada. E as paredes sagradas,
numa placa votiva, indicam que, molhadas,
eu, ao deus dos mares potente 15
ali as vestes votei recente.
***
1.14
O navis, referent in mare te novi
fluctus. o quid agis? fortiter occupa
portum. nonne vides ut
nudum remigio latus,
et malus celeri saucius Africo 5
antemnaque gemant ac sine funibus
vix durare carinae
possint imperiosius
aequor? non tibi sunt integra lintea,
non di, quos iterum pressa voces malo. 10
quamvis Pontica pinus,
silvae filia nobilis,
iactes et genus et nomen inutile:
nil pictis timidus navita puppibus
fidit. tu, nisi ventis 15
debes ludibrium, cave.
nuper sollicitum quae mihi taedium,
nunc desiderium curaque non levis,
interfusa nitentis
vites aequora Cycladas. 20
1.14
Novas ondas ao mar vão levar-te outra vez,
ó nau! Que vais fazer? Toma sem tibiez
este porto. Pois não vês tudo?
dos remos o flanco desnudo?
pelo Áfrico veloz o mastro ferido além? 5
e as antenas gemendo? e que às quilhas também
suportar é muito custoso,
sem as cordas, o imperioso
mar? Íntegros não tens os linhos e nem mais
os deuses justos são, a quem clamas por paz. 10
Embora pôntica madeira,
filha duma selva altaneira,
vanglorias-te da estirpe e nome assim em vão:
sem coragem o nauta em proas pintadas não
crê. Cuida-te para não seres 15
senão dos ventos bel-prazeres.
Tu, que recentemente era a mim um penoso
tédio e ora é saudade e desvelo zeloso,
evita as águas confluentes
das Cícladas resplandecentes. 20
MAIS CINCO ODES DE HORÁCIO
Tradução de Paulo Manoel Ramos Pereira*
(Curadoria de Luís Araujo Pereira.* Publicado em
Ode I, 11
Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoë, nec Babylonios
tentaris numeros. Ut melius quidquid erit pati,
seu plures hiemes seu tribuit Juppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum. Sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. Dum loquimur fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.
Ode I, 11
Não busques saber ̶ é tolo ̶ como a mim, a você,
os deuses darão fim, Leucônoe, nem as babilônicas
magias tentes. O melhor é sofrer o que seja,
haja Júpiter dado muitos ou o último inverno,
este que agora o mar Tirreno choca contra as rochas.
Sê sábia, bebe do vinho, e faz um curto momento
a maior esperança. Enquanto falamos, nos foge
o tempo: colha o dia, e crê pouco no seguinte.
Ode I, 23
Vitas hinnuleo me similis, Chloë,
quaerenti pavidam montibus aviis
matrem non sine vano
aurarum et silüae metu.
Nam seu mobilibus veris inhorruit
adventus foliis seu virides rubum
dimovere lacertae,
et corde et genibus tremit.
Atqui non ego te tigris ut aspera
gaetulusve leo frangere persequor:
tandem desine matrem
tempestiva sequi viro.
Ode
I, 23
A mim evitas como um cervo, Cloe,
que procura assustado sua mãe
nas montanhas, não sem medo
vão da mata e da ventania.
Se é chegada a Primavera num
arroubo, ou remexem as folhas verdes
lagartos, teu coração
e joelhos logo se tremem.
Mas atrás de ti não vou como bruto
tigre ou o leão getúlico, mortal:
desiste de ir para a mãe,
é já tempo de achar um homem.
***
Ode II, 20
Non usitata nec tenui ferar
penna biformis per liquidum aethera
uates neque in terris morabor
longius inuidiaque maior
urbis relinquam. Non ego pauperum
sanguis parentum, non ego quem uocas,
dilecte Maecenas, obibo
nec Stygia cohibebor unda.
Iam iam residunt cruribus asperae
pelles et album mutor in alitem
superne nascunturque leues
per digitos umerosque plumae.
Iam Daedaleo ocior Icaro
uisam gementis litora Bosphori
Syrtisque Gaetulas canorus
ales Hyperboreosque campos.
Me Colchus et qui dissimulat metum
Marsae cohortis Dacus et ultimi
noscent Geloni, me peritus
discet Hiber Rhodanique potor.
Absint inani funere neniae
luctusque turpes et querimoniae;
conpesce clamorem ac sepulcri
mitte superuacuos honores.
Ode
II, 20
Não serão comuns nem frágeis as asas
que a mim, poeta biforme, alçarão
ao etéreo céu, e mais em
terra não demorarei: maior
que a inveja, as cidades deixo. De pobres
o filho, eu, por quem clamas, eu, querido
Mecenas, não morro, nem as
ondas do Estige impedir-me-ão.
Agora mesmo enrugar sinto a pele
das pernas, em branco e celestial
pássaro torno-me; e leves
penas nos ombros e dedos crescem.
Agora, ágil quanto o Ícaro dedáleo,
visito a costa do choroso Bósforo,
as Sirtes e as mais hiperbóreas
campinas, eu, tal ave cantante.
Conhecer-me-ão Colco e Daco, que
o medo esconde da coorte marsa,
e os distantes Gelonos; bem
me estudarão tanto Ibéria e Ródano.
Não haja, em meu esvaziado funeral,
tristes cantos e vergonhosos prantos;
reprime os lamentos ̶ à tumba
envia as supérfluas honrarias.
***
Ode III, 9
Donec gratus eram tibi
nec quisquam potior brachia candidae
cervici juvenis dabat,
persarum vigui rege beatior.
Donec non alia magis
arsisti neque erat Lydia post Chloën,
multi Lydia nominis
romana vigui clarior Ilia.
Me nunc Thressa Chloë regit
dulces docta modos et citharae sciens,
pro qua non metuam mori
si parcent animae fata superstiti.
Me torret face mutua
Thurini Calais filius Ornyti,
pro quo bis patiar mori
si parcent puero fata superstiti.
Quid si prisca redit Venus
diductosque jugo cogit aëneo,
si flava excutitur Chloë
rejectaeque patet janua Lydiae?
Quamquam sidere pulchrior
ille est, tu levior cortice et improbo
iracundior Hadria,
tecum vivere amem, tecum obeam ibens.
Ode
III, 9
̶ Enquanto fui-te encantador,
jovem algum, preferido, os braços pousava
em torno do teu pescoço cândido;
mais afortunado que o rei da Pérsia fui.
̶ Enquanto por outra não ardias,
e Lídia não era pela Cloe preterida,
um grande nome tive: Lídia,
mais conhecida que a romana Ília fui.
̶ Agora a trácia Cloe rege-me,
tão doce de modos e versada na cítara,
por quem sem medo poderia
eu morrer, se o destino sua alma poupasse.
̶ Queima-me a face tão igualmente
tal Calais, o filho de Órnito de Túrio,
por ele duas vezes morro,
se poupá-lo assim o destino, meu rapaz.
̶ E se o antigo amor nos volta, e
obriga-nos, ora separados, seu jugo?,
e se a loura Cloe partir,
e à Lídia as velhas portas tornam a abrir?
̶ Então, embora belo seja ele,
feito astro, e tu leve como uma cortiça e
bravo como Ádria, contigo
eu viveria bem, e grata morreria.
***
Ode IV, 10
O crudelis adhuc et Veneris muneribus potens,
insperata tuae cum veniet pluma superbiae,
et quae nunc humeris involitant deciderint comae,
nunc et qui color est puniceae flore prior rosae
mutatus Ligurinum in faciem verterit hispidam,
dices heu quotiens te speculo videris alterum:
quae mens est hodie, cur eadem non puero fuit?
vel cur his animis incolumes non redeunt genae?
Ode
IV, 10
Ó cruel que grandes dons de Vênus ainda usufrui:
quando de supetão cobrirem o teu orgulho as penas,
e os cabelos que agora pousam nos ombros caírem,
e tua cor, agora mais rosa que a rosa em si,
mudar, Ligurino ̶ calhar-te-á um rosto
ríspido ̶ ,
dirás a esse estranho, sempre que no espelho o encarar:
a mente de hoje, por que não a possuí em jovem, ou
por que a este espírito não tornam aquelas feições?
Poeta romano Horácio
Quinto Horácio Flaco (latim: Quintus Horatius Flaccus – 65 a.C.-8 a.C.). Poeta lírico, satírico e filósofo latino. Horácio nasceu em Venúsia, Itália, no ano 65 a. C. Filho de um escravo liberto que exercia a função de cobrador de impostos, fez seus estudos em Roma onde foi aluno de Lucio Orbílio Pupilo. Aperfeiçoou seus estudos literários em Atenas.
Estabeleceu-se em Roma como escriba de questores. Foi amigo do poeta Virgílio, que o apresentou a Caio Mecenas que o levou para integrar os círculos literários, tornando-se o primeiro literato profissional romano. Cultivou diversos gêneros literários principalmente a ode, em que utilizou os moldes gregos. Procurou sempre imprimir um cunho nacional às suas produções.
Seu primeiro livro conhecido foi “Sátiras” (35 a.C.). Sua obra prima, são os três livros de poemas líricos, “Odes” (23 a.C.), complementados por um quarto volume escrito em 13 a.C. Gozou de grande prestígio junto ao imperador Augusto e para ele compôs “Carmen Saeculare” (20 a.C.), um hino epistolar de caráter litúrgico dedicado a Apolo e Diana. Sua poesia escrita em forma de sentença teve muitas delas transformadas em provérbios. Faleceu em Roma, Itália, no ano 8 a.C.
*Paulo Manoel Ramos Pereira, nascido em 1998, é natural e residente de Goiânia. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Goiás. É autor de “O teatro de sombras” (Kotter Editorial, 2021). Coorganizou “Antologia clandestina” (Editora Goiânia Clandestina, 2017) e “Antologia clandestina II” (Editora Goiânia Clandestina, 2021). Escreve sobre literatura e artes correlatas para Ermira Cultura. Ao longo dos anos, publicou diversos fanzines de poemas e seus textos foram publicados em jornais de grande abrangência. Traduziu vários autores para blogs e plaquetas de iniciativa independente. Revisou, ainda, publicações para editoras de pequeno e médio portes.
*Luis Araujo Pereira nasceu em Pirapora, Minas Gerais. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Goiás e mestre pela École dês Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Foi professor do Instituto de Letras da UFG de 1979 a 1996. Poeta e editor de livros técnicos. Publico Oficio fixo (Poemas, 1968, Prêmio da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos( pela Editora Oió e Linhas (poemas, 1994) pela Editora da UFG. Desde 2002 é cronista do jornal O Popular. https://revistaadega.uol.com.br/artigo/conheca-horacio-um-poeta-apaixonado-por-vinho_10644.html
BIOGRAFIA DE HORÁCIO
Horácio (65 a.C.-8 a.C.) foi um poeta lírico, satírico e moralista político, o primeiro literato profissional romano. Exerceu enorme influência sobre toda a literatura ocidental. Quinto Horácio Flanco nasceu em Venúsia, posteriormente Venosa, Itália, no dia 8 de dezembro de 65 a.C. Filho de um escravo emancipado e funcionário público financiou seus estudos em Roma e depois em Atenas.
Após o assassinato de Júlio César, em 44 a.C., uniu-se ao grupo republicano e comandou uma legião do exército de Brutus na batalha de Filipos, na Grécia. Apesar da derrota, voltou para Roma graças a uma anistia. Passou graves dificuldades financeiras até conseguir um cargo administrativo. Começou a escrever seus versos e entrou para os círculos literários, sob a proteção do influente Caio Mecenas. Tornou-se amigo de Virgílio.
Horácio foi o primeiro literato profissional romano. Ele aceitava ajuda, como a pequena propriedade nos montes Sabinos que lhe recebeu de Mecenas, mas evitava imposições que pudessem vir a afetar sua integridade.
Os poemas de Horácio
A obra de Horácio compreende quatro livros de odes, um de epodos, dois de sátiras, dois de epístolas, um hino e uma carta. Instalado em sua vila nos montes Sabinos, Horácio se dedicava a observar e comentar a vida romana. Primeiro nos epodos que formam uma coleção de 17 poemas escritos entre 41 e 31 a.C.
Seu primeiro livro de “Sátiras” (35 a.C.), contém dez poemas em que discute questões éticas. O segundo livro de sátiras foi publicado em 30 a.C. Sua obra-prima são os três livros de poemas líricos, as “Odes”, de 23 a.C., complementados por um quarto volume de 13 a.C. Algumas das odes são dedicadas ao nacionalismo estimulado por Augusto. Para o imperador, compôs o “Canto Secular”, hino de caráter litúrgico dedicado a Apolo e Diana.
Poetizando a realidade romana, criou versos que exaltavam a política imperial. Pessoalmente valorizou o indivíduo e a elite. Os dois livros de epístolas, cheias de sabedoria, são expressões da filosofia estoica. O primeiro, de 20 a.C., contém vinte cartas familiares escritas em tom filosófico, em que o poeta recomenda certas regras de conduta e uma vida estoica. No segundo livro há duas longas cartas de crítica literária, em que Horácio estabelece os princípios da poesia augusta, descreve a função do poeta e enumera as regras da tragédia em Roma. Na carta dedicada à família dos Pisões, mais conhecida como “Arte Poética”, a pretexto de dar conselho aos jovens que desejam ser poetas, resume as normas do Classicismo. Recomenda que evitem os excessos, dizendo:
“há uma medida em todas as coisas”
Horácio exerceu influência enorme sobre toda a literatura ocidental. A estética de Horácio se define pela precisão dos metros, pela sobriedade de expressão e pela serenidade diante da vida. Um dos últimos representantes dessa tendência foi Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Horácio faleceu em Roma, no dia 27 de novembro do ano 8 a.C.
O Destino dos Impérios, de Thomas Cole (1801-1848, EUA)
Um poeta apaixonado por vinho
A bebida vinífera serve como inspiração para as obras deste importante personagem da história romana
Por Arnaldo Grizzo*
No teu ventre transportas o lamento e o riso, as disputas e os loucos amores. Com doçura, persuades os aborrecidos, afrouxa os rígidos, tiras os segredos daqueles que se consideram sábios; eles deixam escapar suas dúvidas e medos com uma risada e uma piada. Devolves a esperança às mentes perturbadas. Tornas audazes os pobres, para que eles não temam ante os reis e nobres, e soldados empunhando armas.
É dessa forma que o poeta romano Horácio define o vinho em sua “Ode a uma ânfora de vinho”, apenas uma de suas inúmeras citações à bebida em sua obra – que influenciou futuras gerações de artistas e filósofos, especialmente do Iluminismo e Academismo.
Quintus Horatius Flaccus viveu do ano 65 até 8 antes de Cristo, em um dos momentos decisivos da história da Roma Antiga. Na época, passava-se da república para o império sob o comando de César Augusto, primeiro imperador e sobrinho-neto de Júlio César. Horácio nasceu na cidade de Venosa, na região da Basilicata, entre a Puglia e Campania, uma rota comercial importante no sul da Itália.
Ele era filho de um escravo liberto, que foi capaz de lhe proporcionar uma boa educação na capital romana. Aliás, mais tarde Horácio faria um tributo a seu pai por ter lhe dado a oportunidade de estudar – “ele merece de mim gratidão generosa e louvor. Eu nunca poderia ter vergonha de tal pai, nem sinto qualquer necessidade, como muitas pessoas fazem, de pedir desculpas por ser filho de um liberto”.
Aos 19 anos, ele seguiu para Atenas estudar na famosa Academia de Platão, onde teve contato com o epicurismo e o estoicismo, além de ter feito amizade com diversos poetas. Lá, acabou recrutado pelo exército republicano de Roma, mas, ao perceber que a causa não triunfaria, especialmente após a Batalha de Filipos, da qual Horácio se envergonha ter participado e saído correndo sem seu escudo. Depois disso, ele fugiu de volta para a Itália. No entanto, as terras de seu pai haviam sido confiscadas e, com isso, arrumou um emprego como escriturário.
Nesse tempo, conheceu o poeta Virgílio, que o introduziu ao círculo de Caio Cílnio Mecenas, amigo e conselheiro de Otaviano, que se proclamaria o imperador César Augusto. Logo, Horácio passou a fazer parte do grupo de poetas patrocinados pelo império, juntamente como Propércio, Cornélio Galo, Tibulo, Ovídio, além de Virgílio, obviamente, entre outros. Não à toa, o nome Mecenas até hoje é sinônimo de patrono das artes.
Nunc est bibendum
Certamente os trabalhos mais famosos de Horácio são suas Odes. Em quatro livros de poemas líricos curtos, ele versa sobre os mais variados temas como amor, amizade, vinho, religião, a moral, patriotismo etc. Mas, diversos deles são, na verdade, elegias a Augusto – seu protetor.
Sua célebre ode “Nunc est bibendum” (“Agora é hora de beber”), por exemplo, exalta a conquista de Otaviano sobre Marco Antônio e Cleópatra e ainda cita duas famosas bebidas da época, o Caecuban – considerado o melhor vinho da antiguidade –, e o Mareótico, um clássico vinho do Egito.
O vinho, aliás, era um tema recorrente em seus poemas, muito devido à filosofia epicurista no qual eles estavam impregnados. Horácio, por sinal, cunhou um dos lemas que ficariam ligados ao epicurismo, o Carpe Diem – aproveite o dia –, também em uma de suas odes: carpe diem, quam minimum credula postero (aproveite o dia, confia o mínimo possível no amanhã).
E mesmo nesta ode, o vinho está presente. Ao dizer que o inverno (metáfora para a morte) se aproxima, o poeta sugere: “Mostre sabedoria, beba o vinho”. A bebida ajuda a aceitar a imprevisibilidade e inevitabilidade da morte fazendo com que nos comprometamos com o presente. Assim, dentro da filosofia epicurista, o vinho representa a libertação das contingencias do passado e do futuro; tornando-se um símbolo desse comprometimento com o presente. Para o poeta, a vida não é apenas uma dádiva, mas um chamado, e a imortalidade, uma dimensão do “eterno presente”.
Segundo a doutrina do filósofo Epicuro de Samos, deve-se procurar os prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo. Assim, em suas odes, Horácio exalta o efeito libertador do vinho. A bebida dá coragem, eloquência, destreza etc. Baco, o deus do vinho, aparece como uma figura que fomenta a paz e a harmonia – diferentemente de sua versão de encarnação violenta, mais comum até então. O mesmo vale para o deus Liber, também ligado ao vinho.
Assim, Horácio conclama a harmonia dos simpósios. Vale lembrar que este termo grego significa “beber juntos”. Na época, eles eram festas regadas a muita bebida. O poeta está sempre convidando para banquetes e, para ele, deixar o vinho trancado na adega é um dos símbolos do insucesso de alguém em se comprometer com o presente. A vida é um banquete, que deixamos ao morrer. Para o poeta, o vinho é um símbolo de humanidade, sendo a conexão entre o terreno e o divino.
Connoisseur
Horácio teria aceitado a “intoxicação” como substituta da inspiração para a sua escrita. No entanto, mais do que apenas usar o vinho como ferramenta, ele teria sido um grande conhecedor da bebida. Diversos dos vinhos citados em seus poemas foram posteriormente catalogados e citados por historiadores romanos.
Ele certamente teve contato com alguns dos melhores vinhos de sua época graças aos seus patronos: Mecenas e Augusto. Nas odes em que eles são retratados, ou então são a eles dedicadas, são citados diversos “rótulos” importantes do período romano como o Falerno, o Caecuban, o Mássico, o Caleno, o Albano, o Formian etc.
O Falerno era considerado um “Grand Cru” de sua época. Originário do Monte Falernus, na Campania, era um dos vinhos preferidos da alta sociedade romana. Provavelmente era um vinho branco doce, mas acredita-se que tenha tido versões secas (austerum) e “leves” (genue) – segundo relatos do historiador Plínio. Horácio, por sua vez, classifica o Falerno como “ardens”, “forte” e “severum”, ou seja, ardente, potente e intenso. Falerno era tão famoso que acredita-se que tenha sido o primeiro vinho a ser falsificado na história. Depois desses anos de sucesso, contudo, desapareceu. Mais recentemente, “reapareceu” na DOC Falerno del Massico (ADEGA já dedicou um artigo ao vinho de Falerno em sua edição de número 100).
O Caecuban, por sua vez, é considerado o melhor de todos os vinhos italianos segundo Plínio. Este branco viria de uma região costeira do Lácio, entre Terracina e Fondi, ao sul de Roma, e seria mais suave do que o Falerno. Horácio cita-o em diversas passagens e, em duas delas, denota-se sua importância: na celebração da vitória sobre Cleópatra e no convite a Mecenas para um brinde (o poeta coloca o Caecuban acima do Falerno, do Caleno e do Formian). O vinho, porém, acabou sendo extinto quando Nero decidiu criar um canal fluvial na região.
O Mássico também vem da região do Lácio, mais precisamente do Monte Mássico. Horácio o menciona como “envelhecido” (vetus), “maduro” (lene merum), doce e como sendo causador de esquecimentos. Acredita-se que, devido à proximidade com a região onde era produzido o Falerno, o Mássico tenha lentamente desaparecido quando os produtores assumiram o nome mais famoso e mais “vendável” de Falerno. Aliás, alguns historiadores acreditam que o Falerno pode ter abrangido outras áreas vizinhas como as dos vinhos Caleno e Statan.
O Caleno, citado por Horácio, vinha da cidade de Cales, não muito distante do monte Mássico. Era tido como um vinho “saudável”, de digestão mais fácil, “ligeiro”, segundo o historiador grego Ateneu. Da região costeira próxima vem o Formian, que não era considerado tão bom quanto os outros, pois amadurecia mais rápido e era mais “oleoso”. Próximo dali também vinha o Surrentino – acredita-se que da região da cidade de Sorrento, ao sul de Nápoles –, também um vinho “menor”, que não “afetava a cabeça”, de acordo com Plínio.
Já outro grande vinho romano era o Albano, vindo da região das Colinas Albanas, um complexo vulcânico 20 quilômetros ao sul de Roma, onde hoje está o Castelgandolfo, residência papal, e também próximo da região dos vinhos Fracasti. Plínio descreveu o Albano como “extremamente doce e ocasionalmente seco”, além de ser melhor apreciado quando envelhecido. Em suas odes, Horácio cita que daria um Albano de nove anos como presente de aniversário para Mecenas.
Horácio, porém, não tinha acesso somente os vinhos italianos, mas também aos gregos. Ele cita o vinho de Coan, que era produzido na ilha grega de Kos e conhecido por sua salinidade. Segundo Plínio, este vinho teria surgido de forma acidental quando um escravo adicionou a água do mar ao mosto para conseguir atingir a sua cota de produção. Esse estilo logo se tornou famoso e foi imitado até mesmo na ilha de Rhodes.
Outros vinhos citados por Horácio são os das ilhas Chios e Lesbos. O Chios teria sido o primeiro vinho tinto produzido, segundo a mitologia, e era chamado de “vinho negro”. Estes vinhos eram raros e caros em Roma, e eram prescritos em pequenas quantidades para propósitos medicinais. Horácio, em suas Sátiras escreve, que um rico personagem serviu esse vinho em um jantar extremamente suntuoso. Já o vinho de Lesbos chega ser mencionado até mesmo por Homero e competia de igual para igual em fama com vinho de Chios. O mais renomado era o Pramnio, mas Horácio cita o Methymnaean, de Metímna, a principal cidade de Lesbos. O poeta romano descreve os vinhos da ilha como “inocentes” (innocens)
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Os vinhos de sua propriedade
No entanto, apesar de apreciar os melhores vinhos de sua época, Horácio também bebia alguns vinhos mais simples. Um deles era o egípcio Mareótico. Mesmo sendo um branco aclamado em seu país de origem, sendo uma das bebidas de Cleópatra, o poeta romano o despreza dizendo que ele causava delírios.
Outro vinho considerado simples era o Sabino, produzido na região da Sabina (próxima de Roma), terra do povo sabino, de quem Horácio provavelmente descendia. Após escrever seu primeiro livro de Sátiras, o poeta recebeu de presente de seu patrono, Mecenas, uma vila na região, que ficou conhecida como Vila de Horácio, perto da cidade de Licenza. O vinho da região era considerado barato, áspero e ácido. Horácio chega a descrevê-lo como “desprezível” (vile). Ainda assim, ele o oferece a Mecenas, alertando-o, porém, de que era um vinho inferior aos de Falerno e Caecuban. Desde 1996, a região possui uma DOC chamada Colli della Sabina.
E, por mais que um vinho não fosse tão bom, ainda assim, para Horácio, ele certamente valia a pena ser sorvido, pois, segundo ele, “nenhum poema escrito por um bebedor de água pode agradar por muito tempo”.
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