Montanha Sainte-Victoire (1902-1906), em de Aix-en-Provence, uma paixão obsessiva de Cézanne |
Por Florisvaldo Mattos
No ensaio que expressamente
lhe dedicou, em 1945, A dúvida de Cézanne ((in O olho e o espírito; São Paulo, Cosac
& Naify, 2006), Maurice Merleau-Ponty lembra que a Paul Cézanne eram
necessárias cem sessões de trabalho para uma natureza-morta e cento e cinqüenta
de pose para um retrato. “A pintura foi seu mundo e sua maneira de existir”,
diz o filósofo francês, para justificar a seriedade e o rigor, enquanto que,
para o historiador de arte Giulio Carlo Argan, “Cézanne renunciou a ter uma
vida para realizar sua obra, ou melhor, fez da obra sua vida.”
Arredio, escasso no falar,
porém não no escrever, Cézanne uniu-se ao grupo dos impressionistas, que
revolucionaram os cânones da arte por volta de 1870, tornando-se amigo de
alguns de seus expoentes (Renoir, Pissarro e Monet), participando inclusive de
suas primeira (1874) e terceira (1877) exposições independentes (realizaram-se
oito até 1886), mas cedo se desiludiu de seu programa renovador por não aceitar
uma pintura de fundamento puramente visual – uma reação ao primado romântico da
emoção -, que deveria sobressair-se das paisagens pintadas ao ar livre, sob o
vigor da luz.
“O impressionismo queria exprimir na pintura a
maneira como os objetos impressionam nossa visão e atacam nossos sentidos.
Representava-os na atmosfera em que a percepção instantânea no-los oferece, sem
contornos absolutos, ligados entre si pela luz e o ar”, observa
Merleau-Ponty.
Cézanne não rejeitava o
impressionismo de todo, mas sua idéia de uma pintura a partir da natureza era
outra. Numa conversa com Émile Bernard (1868-1941), que em 1902 viajou a
Provença para interrogá-lo sobre a sua arte, publicada na revista Occident, dizia ser preciso descobrir a
profundidade da natureza, captar a sua dimensão interna, porque, para ele, era
absolutamente necessário “introduzir nas nossas vibrações de luz, representadas
pelos vermelhos e os amarelos, uma quantidade de azuis para fazer sentir o ar”.
Enquanto os impressionistas,
aceitos após as resistências do meio acadêmico, vendiam quadros à beça, dando
novo sentido ao mercado de arte dentro da sociedade burguesa, de muito, Cézanne
havia encontrado seu caminho. Optara pela pesquisa séria e pelo sacrifício de
só pintar o que lhe ditava a consciência, em busca de uma verdade pictórica.
Paul Cézanne: Auto-retrato com Paleta (1890) |
Como um Moisés, a divisar com
seu peso moral a Terra Prometida, diria em carta ao amigo Ambroise Vollard
(1865-1939): “Um senso agudo de matizes me devassa o íntimo. Eu me vejo
invadido de cores por todos os matizes do infinito. Eu não reproduzo mais que
isto no meu quadro. Nós somos um caos irisado”. Essa convicção repetia, com
outras palavras, passagem de uma carta a outro amigo, este de infância, Émile
Zola (1840-1902), na qual suspeitava que os quadros de pintores do passado “que
representam coisas ao ar livre tenham sido feitos de imaginação”, pois não lhe
pareciam “ter o aspecto verdadeiro, e sobretudo original, que a natureza oferece”.
Levando vida de asceta, já
que, com o pai próspero banqueiro, tinha condições materiais de viver com seus
próprios recursos, e tomado de insegurança e surtos de cólera, à Paris da
agitação urbana, movida pela aglomeração industrial, Cézanne prefere isolar-se
em sua terra natal, a ensolarada Aix-en-Provence, no sul da França, para
realizar uma pintura centrada na pesquisa de cujo tronco, no dizer de Argan,
“nascem as grandes correntes da primeira metade do século XX”, isto é, as
vanguardas que realmente contam: fauvismo, cubismo, expressionismo, dadaísmo,
surrealismo.
Os olhos do espírito. Mesmo com o distanciamento das propostas básicas dos
impressionistas, a arte de Cézanne começou a se firmar com autonomia teórica,
ao estabelecer amizade com Camille Pissarro (1830-1903), artista mais velho do
que ele, que lhe insuflou o gosto pela pesquisa avançada, avesso à aventura
visual. Segundo Argan, tal proximidade o faz compreender – como que num estalo
- que do impressionismo poderia, e até deveria, surgir “um novo classicismo,
dedicado a formar uma imagem nova e concreta do mundo, que não mais deveria ser
buscada na realidade exterior, mas na consciência”.
A operação pictórica era,
para Cézanne, a consciência em ação, ao produzir, ela própria, a sensação.
Aspirava a “uma arte que não falasse superficialmente ao olhar, mas que se
dirigisse à mente”. Passando a pintar a partir da observação direta da
natureza, afastando-se das impressões fugazes e casuais, dos efeitos fugidios
da luz, marca registrada dos impressionistas, evitava que o espírito se
perdesse em “especulações tangíveis”, como dizia, optando pela análise
estrutural da natureza.
“A paisagem pensa comigo; eu
sou a sua consciência”, proclamava.
Recolhido à sua Provença,
cada vez mais empenhado na pesquisa das cores, posto que, insatisfeito com as
sete do prisma, buscava multiplicar cada uma delas, para melhor apreender e
representar o objeto na natureza e no espaço, e de soluções formais que
oferecessem uma representação de permanência e solidez às suas sensações
visuais, Cézanne personificava o pintor voltado inteiramente para a sua arte.
Com isto – escreve Merleau-Ponty -, “renuncia à divisão do tom e a substitui
por misturas graduadas, por uma sucessão de matizes cromáticos sobre o objeto,
por uma modulação de cores que acompanha a forma e a luz recebida”.
Em luta contra a mera
aparência superficial dos objetos e perseguindo a sua substância, rejeitava o
instantâneo e o ilusionismo na representação do espaço. Suprimia os contornos
precisos, instituía o primado da cor sobre o desenho e iluminava suas telas com
a substância íntima dos objetos, em paisagens, naturezas-mortas e retratos,
para alcançar “uma arte – confessava – que não falasse superficialmente ao
olhar, mas que se dirigisse à mente”.
O artista alcançava seus
objetivos por meio de pinceladas enérgicas, bem concebidas e bem executadas, na
vertical, na diagonal e na horizontal, com que entrelaçava tramas sobre a
superfície, mantendo-a em estado de tensão pelo uso de cores chapadas, cujo efeito
conferia à obra um sentido exato de estrutura. Belinda Thomson (Pós-impressionismo; Cosac & Naify,
1999) resume este momento de Cézanne, já entrando pelos anos 1880, ao analisar
uma de suas paisagens:
“Seu tema dos edifícios entre
árvores, tipicamente destituído da presença humana, é organizado de maneira
comprimida num plano horizontal, com as verticais simetricamente posicionadas
dos troncos das árvores provendo equilíbrio. Essa unidade densa da composição e
seu espaço raso são intensificados pelas pinceladas regulares aplicadas
diagonalmente, que imprimem solidez à terra em contraste com as horizontais da
água e o tratamento mais solto da faixa do céu”.
Trata-se justamente de uma
requintada pintura representando uma casa que o amigo Zola comprara com seus
direitos autorais, mas a tela, O castelo
de Médan (1880), jamais a ele pertenceria, em razão do afastamento ocorrido
entre ambos, depois que Cézanne se viu representado na pele de um pintor
fracassado que acaba se suicidando, personagem do romancista no seu livro A obra-prima (1886). No entanto, mais
adiante tornou-se quase unânime o juízo de que Claude Lantier, o personagem,
mais retratava Georges Seurat, que na época introduzia idéias científicas na
construção pictórica, criando com isto o pontilhismo, alvo da ironia de Zola,
do que a Cézanne. O quadro seria adquirido por Gauguin, nas mãos de um
negociante de tintas.
Os Jogadores de Cartas, 1890-1895, de Paul Cézanne |
A volta
por cima. Thomson atribui
essa compra e a de mais cinco telas de Cézanne a “um faro notável” de Gauguin
como colecionador. Comprava barato o que, mais tarde, alcançaria grande valor,
provando ter feito um grande investimento. Não se sabe se por isso ou se por
efeito das paranóias de Cézanne, o fato é que este se distanciou de Gauguin,
acusando-o de oportunista e insincero como amigo e considerando improdutiva e
infrutífera a troca de ideias com ele.
De qualquer forma, por essa
época começa a se delinear uma virada na carreira do artista pelo
reconhecimento de uma crítica mais penetrante, não a provinda de intelectuais literatoscos (palavra minha), talvez o
conceito que ele fará posteriormente do crítico Camille Mauclair (1872-1945),
que, ante uma de suas triunfantes exposições, não teve o pudor de afirmar: “O
nome de Cézanne ficará atrelado à mais memorável gozação com a arte nos últimos
15 anos” – juízo manifestado após Cézanne obter crescente prestígio, a partir
da exposição organizada em 1895 pelo marchand Ambroise Vollard, praticamente
tirando-o da sua voluntária obscuridade, e ante a consagração tardia, que lhe
trouxe a participação no Salão do Outono de 1904, no qual lhe foi dedicada uma
sala inteira.
A resposta de Cézanne veio
quando o “caos irisado” de sua arte ampliara o seu círculo de admiradores e
colecionadores, ali na virada do século XX, com suas telas custando o dobro das
de Claude Monet (perguntava-se: por que tanto sucesso? Respondia-se: pelas suas
audácias), e quando jovens pintores começavam a rodeá-lo verdadeiramente
atordoados com o que viam, e ele, despindo-se da incrustada timidez, confiava a
interlocutores que respondiam pelos nomes de Pablo Picasso, Georges Braque e
Henri Matisse: “Eu talvez tenha vindo antes do tempo. Eu sempre fui um pintor
mais da geração de vocês que da minha”. Ou logo, com o que em outro poderia
parecer presunção, mas agora apenas assumindo o tom do momento: “Há um único
pintor vivo: sou eu. Homens políticos, há dois mil em cada época, mas Cézanne,
só há um em cada dois séculos”. A seguir, viriam os fauvistas, os
expressionistas, os cubistas e os futuristas...
Paul Cézanne: Retrato do Jardineiro Vallier, 1906 |
A morte no ofício. Era um novo mundo, inclusive para as artes, cujo
panorama se modificava. Paris vivia dias de novidades e agitação cultural.
Gertrude Stein, aquela americana que seria um motor de incentivo às vanguardas,
desembarcava com seus dois irmãos, Léo e Michael, e a cunhada Sarah, todos logo
envolvidos com o patrocínio das artes. Como que resgatando os danos de um
escândalo de 1863, dava solene entrada no Museu do Louvre o famosíssimo Déjeuner sur l´Herbe, de Édouard Manet
(1832-1883). Após uma inscrição pública de 15 mil francos, o Pensador, de Rodin, se instala num
pedestal diante do Panteão. A paixão pela arte negra arrebata os jovens
artistas, decididos a ornamentar a modernidade com valores selvagens, expostos
em museus, como o de Trocadéro, e até em butiques, com os já fauvistas e os
depois cubistas no seu encalço.
Era 1906 e, aos 67 anos,
mergulhado na sua paixão vital, a pintura, em Aix-en-Provence, Cézanne passava
horas e dias no ofício (“Estou velho, doente, mas jurei a mim mesmo morrer
pintando” – disse numa carta a Émile Bernard). E justamente, uma tarde, foi
colhido por uma violenta tempestade que o abateu, quando mais uma vez se
dedicava à paixão de pintar nos arredores de Aix-en-Provence, onde
solitariamente pintava o quadro A Cabana
de Jordan. Atingido gravemente pela mesma natureza que amava, fonte de sua
arte, e que agora o prostrava, levaram-no desfalecido numa charrete para casa,
onde se recolheu. Havia pensado em retomar no dia seguinte o retrato de seu
jardineiro Vallier, que permanecerá inacabado como o seu último trabalho de
pintor.
Mesmo assim Cézanne ainda
teve forças para escrever uma carta a seu marchand encomendando-lhe
ingredientes úteis a seu ofício, porém, não resistindo ao desgaste físico,
morre oito dias depois, precisamente em 22 de outubro de 1906, para ser
enterrado no cemitério local, de onde se avista a montanha Sainte-Victoire,
acidente geográfico que, de tão presente em sua pintura dos últimos tempos,
parecia ter se tornado obsessão temática de um artista dominado pela neurótica
ideia de penetrar nas suas “profundezas geológicas”, conforme um dia confessou, como se ela o fizesse
respirar “a virgindade do mundo”.
As Grandes Banhistas, 1900-1905, uma das mais famosas telas de Paul Cézanne |
LETRA E VOZ DA SABEDORIA
As idéias de Cézanne, que
Giulio Carlo Argan dirá serem o tronco do qual nasceriam a grandes correntes do
século XX, começaram a ser divulgadas bem antes de sua morte sempre através de
cartas e conversações transcritas, primeiro as que trocou com Émile Zola, mas
principalmente com jovens artistas que dele se aproximaram.
Numa delas, de 1866, ainda
envolvido com o impressionismo, afirmava ao romancista: (...) “os quadros
feitos no interior, dentro do ateliê, nunca serão tão bons quanto os feitos ao
ar livre. Representando cenas do exterior, os contrastes das figuras no espaço
são espantosos, e a paisagem é magnífica”.
Mas foi nos encontros com
jovens que ele manifestou íntimo interesse em transmitir com clareza seus
pensamentos sobre arte.
Três deles foram importantes:
o jovem poeta Joachin Gasquet (1873-1921), que o procurou em 1896 e, a partir
daí, apesar do receio de Cézanne de acabar vítima de zombaria, estabeleceu com
ele sólida amizade; o marselhês Charles Camoin (1879-1965), impressionista que,
por influência de Cézanne, depois caminharia para o fauvismo; e, por fim, o
mais importante como divulgador, Émile Bernard (1868-1941), que travara
conhecimento com ele desde 1890, mas, embora pintor, como tinha inclinações
literárias, publicou artigos e depois relatos de conversações com Cézanne.
Foi numa carta que o artista
lhe manifestou um de seus juízos de maior influência na arte logo a seguir.
Didático, parecendo pregar para futuros cubistas, ponderava ele em 1904:
“Permita-me repetir o que eu
lhe dizia: abordar a natureza através do cilindro, da esfera, do cone,
colocando o conjunto em perspectiva, de forma que cada lado de um objeto, de um
plano, se dirija para um ponto central. As linhas paralelas ao horizonte dão a
extensão, ou seja, uma seção da natureza ou, se preferir, do espetáculo que o Pater Omnipotens Aeterne Deus expõe
diante de nossos olhos. As linhas perpendiculares a esse horizonte dão a
profundidade. Ora, para nós, seres humanos, a natureza é mais profundidade que
superfície, donde a necessidade de introduzir nas nossas vibrações de luz,
representadas pelos vermelhos e amarelos, uma quantidade suficiente de azuis,
para se fazer sentir o ar.”
E, mais adiante:
“Para fazer progressos, só
através da natureza, porque o olho se educa em contato com ela. Torna-se
concêntrico à custa de observar e trabalhar. Quero dizer que, em uma laranja,
uma maçã, uma bola, uma cabeça, há um ponto culminante, e esse ponto – apesar
do efeito terrível: a luz e sombra, sensações colorantes – é o mais próximo do
nosso olho. As bordas dos objetos fogem em direção a um centro localizado no
nosso horizonte. Com um pouco de temperamento é possível fazer coisas boas sem
ser muito harmonista, ou colorista. Basta ter senso de arte – e esse senso é,
sem dúvida, o horror burguês. Portanto, os institutos, as bolsas, as honras só
podem ser feitos para os cretinos, os farsantes. Não seja crítico de arte, faça
pintura. Essa é a salvação.”
Ouvindo essas coisas, quem
iria ser vanguarda ouvia extasiado.
Natureza-Morta com Toalha, 1893-1895, de Paul Cézanne |
Conversa com Cézanne. Em Teorias da
Arte Moderna (São Paulo: Martins Fontes, 1996), Herschel B. Chipp
transcreve uma “conversação” com Cézanne publicada por Émile Bernard no Mercure de France, em 1921. Serve até de
mostra da técnica da entrevista adotada na época, desde que ainda não existia
gravador. Ei-la.
Em 1904, durante um de nossos passeios nas
proximidades de Aix, perguntei a Cézanne:
- O que acha dos Mestres?
- São bons. Eu ia ao Louvre quando estava em Paris. Mas acabei
apegando-me mais à natureza do que eles. É preciso aprender a ver por si mesmo.
- O que quer dizer com isso?
- Devemos criar uma ótica, devemos ver a natureza como
ninguém a viu antes...
- Não resultará isso numa visão demasiadamente
pessoal, incompreensível ao outros? Afinal de contas, não é a pintura como a
fala? Quando falo, uso a mesma língua que você. Será que me compreenderia se eu
tivesse criado uma língua nova, desconhecida? É com essa língua comum que
devemos expressar as novas idéias. Talvez este seja o único meio de torná-las
válidas e aceitáveis.
- Por ótica quero dizer uma visão lógica, isto é, sem
nada de absurdo.
- Mas em que se baseia sua ótica, Mestre?
- Na natureza.
- O que quer dizer com essa palavra? Trata-se da nossa
natureza ou da natureza em si?
- Trata-se de ambas.
- Portanto, o senhor concebe a arte como uma união do
universo com o indivíduo?
- Concebo-a como uma percepção pessoal. Coloco essa
percepção na sensação e peço que a inteligência a organize numa obra.
- Mas de que sensações o senhor fala? Daquelas que
estão em seus sentimentos ou daquelas que provêm da sua retina?
- Acho que não pode haver uma separação entre elas.
Além disso, sendo pintor, apego-me primeiro a uma sensação visual.
É uma cena que fala por si.
Se todos os que conversassem com sábios fizessem o mesmo, a história da
reportagem no jornalismo seria outra, a da cultura também.
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BANHADAS DE LÁGRIMA ESTÃO
AS PEDRAS
Florisvaldo Mattos
Nós somos um caos irisado.
Paul Cézanne
Ver a força do dia romper, vibrando
Entre um crepúsculo e o outro crepúsculo,
Ver surgir da terra um ranger de músculo;
Nada tenho a dizer, estou chorando.
O dia amanhece, quando amanheço,
Estático, no espaço da varanda.
Preso a formas e cores, não esqueço
A mão universal que isso comanda.
Afasto da mente a mediocridade
Que navega de um polo a outro do dia.
Cá me defronto com outra realidade,
Não tenho hora para a melancolia.
Natureza é tudo, me diz Cézanne.
Cá estou para ver, o resto se dane!
(SSA/BA, 03/4/2007. Publicado em Poesia Reunida e Inéditos. São Paulo: Escrituras Editora, 2011, pp. 336).
Florisvaldo Mattos
Nós somos um caos irisado.
Paul Cézanne
Ver a força do dia romper, vibrando
Entre um crepúsculo e o outro crepúsculo,
Ver surgir da terra um ranger de músculo;
Nada tenho a dizer, estou chorando.
O dia amanhece, quando amanheço,
Estático, no espaço da varanda.
Preso a formas e cores, não esqueço
A mão universal que isso comanda.
Afasto da mente a mediocridade
Que navega de um polo a outro do dia.
Cá me defronto com outra realidade,
Não tenho hora para a melancolia.
Natureza é tudo, me diz Cézanne.
Cá estou para ver, o resto se dane!
(SSA/BA, 03/4/2007. Publicado em Poesia Reunida e Inéditos. São Paulo: Escrituras Editora, 2011, pp. 336).
Montanha Sainte-Victoire, 1902-06, em cujas "profundezas geológicas", Cézanne sonhava penetrar |
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Florisvaldo Mattos é poeta e
jornalista; professor aposentado da UFBA, pertence à Academia de Letras da
Bahia. Textos escritos em 2006, quando do transcurso dos 100 anos da morte de
Paul Cézanne.
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