1937: a cidade de Guernica, na Espanha, após o bombardeio perpetrado por aviões da Legião Condor, a mando de Hitler |
(Via
Picasso; Madri, 1994)
Onde
álacres campinas de recreio
Abriam-se
a canto e alarido escolar;
Onde
antes havia o tempo sem abismos,
Coruscantes
ruas, comércio lucrativo,
Familiar
convívio de pacatos rostos,
Ah, tudo
desapareceu na hora agra:
Algo se
transmudou em chão rugoso,
A seara
insone de insaciadas fomes.
Foram mil
seiscentos e cinquenta
Mortos; oitocentos e oitenta e nove
Feridos e
aleijados. Em Guernica,
As
platibandas antes imponentes
Testemunharam
o furor do sangue;
Enquanto
avança o vento assoviando,
Fendas no
chão de crenças, sonhos
Súbito de
pedra viram coágulos.
Mater Dolorosa, detalhe de "Guernica", de Picasso |
Aquartelados
nos oitões da sombra,
De
alumínio e aço centuriões desatam
Os
arsenais de mortas dinastias –
Metálico
tropel, inferno a vômitos.
Meteoro
cravado a ferro e fogo
Sobre
chaga ainda incólume sem idade,
Guernica:
Troia em terras de Numância;
Canudos
no caminho de My-lai.
Como que
pendentes das estatísticas
E dos
noticiosos radiofônicos,
Milhares
de pássaros em pânico,
Mulheres
e homens por aqui passaram,
Sem olhos
e mãos aos céus clamando.
Ao
marulho de pés acorrentados,
Marcham
por vales e nevados montes.
Marcham,
e marcham para a eternidade.
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