quinta-feira, 8 de junho de 2023

POESIA, NO DIA A DIA, DE POEMAS E POETAS

 




LEITURA PARA POUCOS
Ensaio publicado, há algum tempo, no Jornal das Artes

POETAS CELEBRIDADES

Gilberto Wallace Battlana

“Um grande poeta resulta na menos poética das pessoas. Em compensação, os poetas medíocres são absolutamente fascinantes. Quanto piores são os seus poemas, mais pitorescos parecem os poetas”.
Oscar Wilde
Há poetas que, mais que com a poesia, preocupam-se com as relações, as influências não poéticas, mas sociais. Esses podem alcançar destaque na vida literária, nas páginas dos cadernos de cultura e/ou no espaço publicitário da mídia, raramente significando algo nas páginas da História da Literatura.
Alguns, menos que poetas, são celebridades. Reconhecidos mais pelas notícias e fotos dos jornais, entrevistas na televisão, do que pelos poemas que escrevem. Sua vida social, suas palestras, os cursos, os eventos de que participam se sobrepõe à sua obra poética. Muitos os reconhecem pelas fotografias estampadas nos jornais, raros são os que conhecem a sua poesia.
Fazem das suas vidas mais que públicas, publicitárias. Vivem para a mídia. Transtornam-se diante de uma câmera ou microfone. São os filhos deslumbrados da publicidade. Alguns me causam a impressão de que não lhes importa mais a sua obra -- se é que obra tem – mas a sua figura, e que má figura tem alguns. Não importa, a mídia edulcora tudo. O feio passa a ser agradável, senão bonito, famoso, e na nossa época o que vale é ser celebridade. Um big-brother da vida. As maiores bobagens, se publicadas em jornais ou revistas, adquirem um status de cultura. Se publicadas, então, em revistas ou jornais de prestígio, leia-se, de grande circulação, não há que discutir o talento de quem consegue a façanha. É por isso que todo o poeta celebridade luta para ficar à sombra de um grande jornal ou de uma grande revista.
Nesta salada russa promíscua, poeticamente promovida mais por aparições públicas do que por poemas escritos, ninguém mais pergunta o que ele escreveu, mas qual foi a última notícia que protagonizou. Sua ultima aparição no espaço não mais público, mas como quer Baudrillard, publicitário.
Muitos desses poetas fingem ser o que não são, ao contrário do que aconselhava Pessoa. O poeta que se veste de forma extravagante, se fazendo de excêntrico, ou diferente, para chamar mais a atenção, para marcar a sua presença, que põe paletó e gravata, sem camisa, ou qualquer coisa no gênero, apenas para se diferenciar, para se fazer notado, para chamar a atenção para si, não para a sua poesia, é o anti-Pessoa. Alguns me causam pena pelo esforço que fazem para fingir ser o que não são, agindo como se fossem os poetas que pretendem ser.
Quantos esquecem-se da poesia, para preocuparem-se apenas com o personagem que compõem, que pretendem representar. O que poderá fazê-los notados por algum tempo. A excentricidade do seu comportamento o falso brilho das suas performances alcançando maior repercussão, maior notoriedade, que os seus poemas, o que até muitas vezes acontece, tal a má qualidade de seus poemas, esforçam-se para alcançarem ser personagens da vida literária.
Há, realmente, muitos impostores no meio literário, que se apresentam como poetas sem ser, e, outros, que também não o são os saúdam e, quando estão em posição que lhes possibilita premiar, dão-lhes prêmios, numa irmandade, num reconhecimento que a posteridade, com certeza, lhes negará. A esses chamo de celebridades da vida literária, ou da mídia, jamais da literatura, menos que personalidades, são celebridades, não cerebridades, na distinção que faz Sérgio Augusto num bem sucedido artigo.
Eis algumas das fórmulas que os poetas celebridades costumam usar entre eles para se promoverem mutuamente:
Fórmula 1, a mais simples:
A elogia a obra de B que responde enaltecendo a obra de A.
Fórmula 2:
A diz bem da poesia de B que elogia a de C, que enaltece a de A.
E escrevem usando “tecníquerias”, na expressão de Unamuno, tais como “intersemioticidade subjetiva”, “adjunções fônicas analíticas supercodificadas”, que não nos dizem nada a não ser tentar exibir a falsa erudição de quem escreve. E isso, a respeito de um anêmico poema de cinco versos.
Há outras, mas fiquemos nessas duas.
Formam-se verdadeiras quadrilhas de elogios correspondentes. Premiam-se uns aos outros. Quanto mais medíocres, mais se esforçam no enaltecimento mútuo, fortalecendo assim a busca do reconhecimento e a aprovação dos outros.
Esses poetas celebridades que tentam se fazer mais interessantes que os seus poemas, como se esquecidos que, para a posteridade, eles é que dependem de seus poemas, jamais os poemas se apoiarão nas suas efêmeras famas dos jornais que vão para o lixo no dia seguinte. Tornam-se famosos pelos acontecimentos que protagonizam e com os quais ilustram as suas vidas, não pelo que escrevem, e o que fará serem lembrados como poetas, não como atores do “grand-guignol” da vida, será precisamente os poemas que escreverem. Parafraseando Auden, penso que um poeta deve estar mais próximo das palavras do que da sociedade. A sociedade deve ser observada, a palavra vivida.
Há os que buscam mostrar a sua vida mais atraente do que a sua poesia, o que não é difícil, dada a qualidade dos poemas que escrevem. A poesia deles consiste em seu próprio carreirismo e em sua disposição para conquistar simpatia, numa leviandade aparentemente jovial e de uma estudada e forçada falsa disponibilidade e sinceridade para expor a sua intimidade.
São personagens, de pouca substância e muita perfumaria, que precisam se inventar como personalidades notórias pela publicização das suas encenações pessoais, já que a sua poesia não lhes permite alcançar a fama pela publicação de seus poemas. Alguns nem escrevem poemas, apenas protagonizam fatos. Quantos desses poetas conhecemos mais pelas fotografias que deles são publicadas do que pela poesia que escrevem?
O maior talento de alguns desses poetas/escritores está em saberem se promover na mídia, relacionando-se com os jornalistas responsáveis pelos cadernos de cultura e entretenimento de jornais de grande circulação e dos produtores dos programas de rádio e tv.
As pessoas tendem a confundir exposição na mídia com valor literário. Se os jornalistas oferecem espaço a um poeta, imaginam, é porque ele deve ter qualidades literárias, sem supor que a maioria desses jornalistas não leem os livros, mas os “releases” enviados, ou quando muito a orelha do livro. Não se deve confundir exposição na mídia, nomeada, com qualidade literária.
Para finalizar, uma frase de Emily Dickson sobre o que significa a celebridade para um verdadeiro poeta: “a punição do mérito e o castigo do talento”.
Todas as reações:
Carlos Verçosa
2 comentários
Curtir
Comentar
Compartilhar

Nenhum comentário:

Postar um comentário