JORNALISMO E POESIA NA LIDA DE UM POETA
Por Ari Donato*
Consagrado ao longo de uma carreira que teve início em 1958 e fim em 2011, ao se afastar do exercício da profissão, o jornalista e poeta Florisvaldo Mattos, 90 anos, disse neste sábado (12/11) que o Jornalismo mais atrapalhou do que o ajudou na trilha da poesia.
Florisvaldo falou a uma plateia na Bienal do Livro Bahia, no Centro de Convenções Salvador, ao lançar “Cacaueiros”, coletânea reunindo poesia, conto e teatro. Da conversa participou o poeta Antônio Brasileiro, que teve lançado “Poesia completa”, em dois volumes, reunindo sua obra.
Na ocasião, Florisvaldo Mattos reafirmou sua paixão pelo jornalismo, uma profissão que exerceu magistralmente, tornando-se mestre de centenas de jornalistas. (Entre os quais o que escreve este texto). Durante a conversa, o poeta citou que a lida diária no jornalismo, iniciada às 8 horas e concluída na metade da noite, quando retornava alquebrado para casa, muito o prejudicava no processo de criação.
Embora tenha escrito os primeiros poemas em 1951, sob a influência do poeta baiano Sosígenes Costa (1901-1968), que conheceu pessoalmente, Florisvaldo Mattos foi publicar seu primeiro livro, “Reverdor”, em 1965.
“Cacaueiros”, pela Editora Mondrongo, é, nas palavras do poeta, “uma coletânea de abstrações verbais, envolvendo sonhos, fábulas e emoções”
(Bienal do Livro da Bahia, em 12.11.2022)
*Baiano, Ari Donato, é jornalista formado e escritor.
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Edição da Mondrongo, 370 págs. |
PRÓLOGO O título desta coletânea de abstrações verbais, envolvendo sonhos, fábulas e emoções, possui uma história, cuja origem se avizinha de risonho coloquial, senão do folclórico. Recordo que, certa noite, que já vai longe, em restaurante do Rio Vermelho, de Salvador, durante o lançamento de obras publicadas por sua independente, mas sempre vitoriosa Editora Mondrongo, manifestei a intenção de reunir em livro poemas de minha lavra, que guardavam universo da região cacaueira como referência. Gustavo Felicíssimo olhou-me como que surpreendido e logo, sorridente, respondeu: “Que maravilha, Florisvaldo! Sim, e vamos publicá-los com o título de CACAUEIROS.” A conversa parou aí e, finda a festa literária, nos despedimos.
A partir deste momento, o tempo fugiu invejoso, como diz Horácio, em sua mais célebre ode, mas vai que, um dia, a romântica ansiedade retornou, fustigando-me a mente, e voltei a propor o antigo sonho ao operoso editor, repetindo-se nova amistosa e sensível acolhida. Então, aproveitei a melhor coisa da vida que é não fazer nada (copio este juízo de uma confissão do poeta surrealista Paul Éluard, ao passear com Pablo Neruda, uma noite pela Rive Gauche, de Paris), que a forçada quarentena da pandemia me impunha, e meti mãos à obra nesta audaciosa empreitada.
Logicamente, comecei por reunir poemas de fundamento rural, em sua maioria de elocução épico-lírica, acrescentando inéditos mas, como em toda aventura há sempre a ânsia de um
passo a mais, resolvi remontar a meses de uma sofrida convalescença cirúrgica, enveredando pela enganosa trilha da escrita de um conto e de uma peça de teatro, centrados
em cenários históricos e morais da região do cacau. É justamente o resultado dessa incauta aventura que se oferece à complacência de possíveis leitores e leitoras. Diante disto, agradecido pela tolerância e bondosa deferência, só me resta recorrer ao latim: alea
jacta est. Muito obrigado.
Florisvaldo Mattos
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