segunda-feira, 15 de abril de 2019

CIDADE DO SALVADOR ANTIGA, 470

POR RAFAEL DANTAS

Salvador da Bahia no final do século XVIII tinha o maior porto do Brasil perdendo o posto anos depois, no século XIX, para o Rio de Janeiro, então capital da colônia. No início do século XIX era uma cidade de fundamental relevância no cenário das relações comercias e políticas da época, lugar de encontros culturais imersos em uma sociedade escravista. As cartas e o prospecto de Vilhena, que foi professor de grego em Salvador, ajudam a compreender as dinâmicas e as complexidades do período. Vamos por partes:

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Recorte 1 – Começaremos com a vista de parte do Forte de São Marcelo e no fundo os casarios da região baixa e alta. Notem o amontado de prédios, próximos uns aos outros, ruas bem estreitas, traçado da região antes das reformas urbanas que aos poucos mudaram o lugar. Era ali no meio de tudo isso que o comércio pulsava. Já nas primeiras décadas do XIX consideráveis obras trouxeram melhorias para o porto e ruas do região, com a vinda da família real em 1808 e depois com as iniciativas do governo e dos comerciantes novos contornos surgiram. Vilhena numera os principais edifícios da época, fazendo uma pequena descrição de cada um dos imóveis. No cais é possível ver escadas, antigos guindastes, indícios de obras na região portuária e nos casarios do entorno, uma região pulsante em sua dinâmica urbana.
Em todo esse contexto não podemos esquecer a realidade escravista, com seus abusos, conflitos e negociações, cenários dos mais diversos, que iremos analisar nas postagens seguintes. No século XVIII o tráfico de escravos era uma das atividades mais lucrativa da Bahia. Vilhena descreve que em 1798 chegaram na Bahia 4.903 escravos importados da Costa de Mina e mais 2.151 de Angola. Nos anos seguintes até 1807, lembra Pedro de Almeida Vasconcelos em “Salvador Transformações e Permanências: 1549 – 1999” chegaram na Bahia 29.191 escravos da Costa da Mina e 13.965 de Angola.
Voltando para o prospecto, na Cidade Alta o destaque vai para o imponente prédio do Palácio Arquiepiscopal, Nº 78, ao lado da Sé, Nº79, sem sua imponente fachada de pedra. A Misericórdia vem logo em seguida, Nº 77. A torre da casa da Câmara e o palácio do Governador correspondem aos números: 73 e 72, respectivamente.
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Recorte 2 – A Igreja da Conceição da Praia é retratada em construção sem a torre direita, Nº 51. Armazéns, prédios comerciais/residenciais se misturam no cenário do entorno da freguesia. Notem que Vilhena sinaliza, Nº 70, uma ladeira ligando a região da praia as proximidades do Palácio do Governador. Nessa época a subida, principalmente em época de chuva, não era fácil. A freguesia da Conceição da Praia já era densamente habitada, comparada a outras regiões, desde épocas anteriores.
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Recorte 3 – Agora analisaremos a outra extremidade (canto esquerdo), região de Monte Serrat, Nº2, na parte elevada. Olhem o entorno, poucas construções, local bem afastado e de não tão fácil acesso na época ao central da Cidade. A região era ocupada desde o século XVI.
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4 – A partir da região do Santo Antônio Além Carmo, [forte e Igreja Nº 12] observamos uma maior concentração de construções. A parte baixa da cidade e a alta começam a concentrar um maior número populacional e residencial. As casas possuem de dois e três pavimentos, algumas igrejas já com a suntuosidade que marcaram a arquitetura religiosa em Salvador. Na parte baixa, ladeada de trapiches, a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, Nº13, concluída na primeira metade do século XVIII com fachada rococó; reparem como era próxima do mar.
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5 – Chegando nas proximidades do Carmo e dos casarios da região baixa, Cais Dourado Nº19, observamos que os prédios possuíam de três a quatro pavimentos. Na parte alta o Convento do Carmo, Nº17. A Igreja da Ordem Terceira do Carmo, que fica atualmente ao lado, nessa época estava em reforma ampliação, fora vitimada por um incêndio em 1788, por isso não aparece no prospecto de Vilhena. Ao lado, Nº 21, a Igreja do Passo com suas torres em terminações piramidais.
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6 – No Nº 25 temos a Igreja do Rosário dos Pretos e em seguida o Colégio dos Jesuítas, Nº27, e a Catedral, Nº29. Em direção a parte baixa os casarios da região do Taboão. Atividades comerciais das mais diversas, entre eles a da ourivesaria, sapataria, selaria [...] marcavam presença na área e redondezas da Cidade Baixa.
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7 – O Mosteiro de São Bento, Nº 67, é retratado sem a cúpula e a torre direita. Maria Helena O. Flexor Flexor, em “Igrejas e Conventos da Bahia”, escreve que “Toda a estrutura arquitetônica da entrada e a fachada foram feitas em arenito de origem baiana.” As torres atuais, lembra a mesma autora, são de 1877 e 1880. No Nº 66 o Convento de Santa Teresa.
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8 - No canto direito a velha Igreja de Santo Antônio da Barra, Nº 58, finaliza o prospecto. A Barra e vizinhança tinham poucas construções. Anos antes durante o movimento da Revolta dos Alfaiates, sediou encontros em casas que ali ficavam. Só para destacar, o Imperador D. Pedro II em visita a região no ano de 1859 disse que era um local aprazível onde pessoas tomavam banhos.

Rafael Dantas.
Historiador.

Os três tomos de Vilhena estão disponíveis on-line:
Tomo I:
http://objdigital.bn.br/…/div_man…/mss1304880/mss1304880.pdf
Tomo II:
http://objdigital.bn.br/…/div_man…/mss1304879/mss1304879.pdf
Tomo III:
http://objdigital.bn.br/…/div_man…/mss1304881/mss1304881.pdf
Prospecto de Vilhena:
http://objdigital.bn.br/…/d…/mss1304801_34/mss1304802_06.jpg



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