Ataque terrorista às Torres Gêmeas em Nova York, em 2001 (Imagens Google) |
Aos
mortos do World Trade Center de Nova York (Terça-feira, 11 set. 2001)
Et par le pouvoir d´un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.
(Paul Éluard, Poésie et
Verité, Paris, 1942)
Grandes e
estranhos pensamentos
francamente
trafegam pelas
rotundas
da noite. Desperto
de
longínquas esferas, ardo.
Propenso
a inundar-me do ar da noite,
absorvo
mapas de passado grávidos.
Só a
noite, sim, me recupera os tendões
nervosos
que me amarram a almejadas
glórias,
as que me faziam anjo
pairando
sobre mantos estelares
e,
súbito, perdi. Tateio entre ventres,
entre
seios, flores murchas de olor sugado.
Não estou
nada feliz. No mar revolto
de sonhos
desvanecidos, resta-me,
de meu
posto, aguardar o êxtase tempestuoso.
Gêmeas
torres sem alegrias, imponentes,
diáfanas:
o orgulho traspassa constelações,
a
enrijecer, petrificar corações em febre.
Tudo se
parece com o mar: profundidade
e
sobressalto. Outrora eram desertos,
fecundas
areias de canto e idílio
nostálgicas.
Ou, antes, com céu propício
a
viagens, ao sopro de ventos perenes,
navegações
de alma, semblantes nômades.
E, assim,
marcho para a noite de estilhaços,
onde
submerjo. Sobrevieram devastações.
Mal os
pássaros acordavam, quando tudo
transmudou-se
em frágua vertical, depois ruiu,
poeira e
pedra no descambo caçando Sísifo,
solerte
adubação, solo propenso a iras.
Ó pranto
hereditário de Velho Oeste
sem
anjos, fogo de revólveres pedagógicos,
terras
(disseram) de glorioso fundamento.
Metralhadoras
em noites de ritos fumegantes,
ó
didático pragmatismo do aço, sangue e balas,
moedas de
fel sobre relva de surdos passos!
Decididamente,
perco-me entre grossas
cordilheiras
de fumo, de caliça e ferro
retorcido;
corpos de forma e cor nenhuma.
Decididamente,
o caos se fez medo e escombros,
ante
rostos atônitos, bocas empedernidas.
De novo
Guernica? De novo Nagasaki?
Pássaros
cegos descreveram linhas rubras
no céu da
manhã, refletidas na água verde
do rio
que segue indiferente destino
sob
grandes pontes. No chão, decididamente,
em letras
de cimento e alumínio, a mão do anjo
escreve:
“Humanidade, vergonha é o teu nome.”
(Salvador, 20 set. 2001)
Aos
mortos do World Trade Center de Nova York (Terça-feira, 11 set. 2001)
Et par le pouvoir d´un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.
(Paul Éluard, Poésie et
Verité, Paris, 1942)
Grandes e
estranhos pensamentos
francamente
trafegam pelas
rotundas
da noite. Desperto
de
longínquas esferas, ardo.
Propenso
a inundar-me do ar da noite,
absorvo
mapas de passado grávidos.
Só a
noite, sim, me recupera os tendões
nervosos
que me amarram a almejadas
glórias,
as que me faziam anjo
pairando
sobre mantos estelares
e,
súbito, perdi. Tateio entre ventres,
entre
seios, flores murchas de olor sugado.
Não estou
nada feliz. No mar revolto
de sonhos
desvanecidos, resta-me,
de meu
posto, aguardar o êxtase tempestuoso.
Gêmeas
torres sem alegrias, imponentes,
diáfanas:
o orgulho traspassa constelações,
a
enrijecer, petrificar corações em febre.
Tudo se
parece com o mar: profundidade
e
sobressalto. Outrora eram desertos,
fecundas
areias de canto e idílio
nostálgicas.
Ou, antes, com céu propício
a
viagens, ao sopro de ventos perenes,
navegações
de alma, semblantes nômades.
E, assim,
marcho para a noite de estilhaços,
onde
submerjo. Sobrevieram devastações.
Mal os
pássaros acordavam, quando tudo
transmudou-se
em frágua vertical, depois ruiu,
poeira e
pedra no descambo caçando Sísifo,
solerte
adubação, solo propenso a iras.
Ó pranto
hereditário de Velho Oeste
sem
anjos, fogo de revólveres pedagógicos,
terras
(disseram) de glorioso fundamento.
Metralhadoras
em noites de ritos fumegantes,
ó
didático pragmatismo do aço, sangue e balas,
moedas de
fel sobre relva de surdos passos!
Decididamente,
perco-me entre grossas
cordilheiras
de fumo, de caliça e ferro
retorcido;
corpos de forma e cor nenhuma.
Decididamente,
o caos se fez medo e escombros,
ante
rostos atônitos, bocas empedernidas.
De novo
Guernica? De novo Nagasaki?
Pássaros
cegos descreveram linhas rubras
no céu da
manhã, refletidas na água verde
do rio
que segue indiferente destino
sob
grandes pontes. No chão, decididamente,
em letras
de cimento e alumínio, a mão do anjo
escreve:
“Humanidade, vergonha é o teu nome.”
(Salvador, 20 set. 2001)
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