terça-feira, 22 de julho de 2014

Não aos cavalos triunfantes

NÃO ÀS GUERRAS, TODAS!

Este poema foi inspirado em episódio da guerra do Vietnã, quando bombardeiros americanos arrasaram uma aldeia, matando civis entre eles crianças. Reproduzo-o, contextualizando com o que está ocorrendo atualmente na Faixa de Gaza, na guerra (milenar) entre judeus e palestinos. Viva a humanidade!


NÃO AOS CAVALOS TRIUNFANTES

Aos meninos de My-Lai

Não me tragam esses cavalos.
Não, não me deem nenhum deles.

Nem o de Alexandre Magno
que comeu os mitos do Oriente.
Nem o cavalo de César
que rasgou o chão da Gália
que foi à Espanha e voltou
para acabar com Pompeu.

Nem o intrépido corcel de Aníbal
na derrota de Cartago.
Nem o fero potro de Átila
de patas excomungadas.
Não, nem mesmo Babieca,
o doido cavalo do Cid.

Nenhum daqueles valentes
fortes cavalos cruzados
cobertos de ferrarias:
grandes cavalos blindados
heróis da Idade Média
salvação da Cristandade.
Nem o branco de Napoleão
empinado sobre os Alpes
suando revolução.

E outros cascos triunfantes
outras crinas memoráveis
cavalos como bandeiras
sejam árabes ou romanos
espanhóis ou americanos
não me deem esses cavalos!

Para mim de nada servem
as ferraduras de sangue
que chagaram geografias.
Esse peitoral de bronze
dizimador de cidades
arrasador de sementes.

O fogo de suas narinas
pulou séculos e mapas
transformou povos em cinza
e ainda queima os espaços.
Os relinchos são navalhas.

Não, já vos disse, não quero.
Para mim de nada servem,
são cavalos militares
ensinados para a guerra.

Desde criança que amo
cavalos pelas campinas
sentindo o cheiro do pelo
saltando pedras e cercas
(a disputa era com os ventos
ao espelho de águas claras).

Quero esses, e somente esses,
cavalos da natureza,
livres de arreios e pulsos –
ruços, alazães, castanhos,
negros, melados ou pampos.

(1968)

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