O
TREM GRAPIÚNA
(Para Florisvaldo Mattos)
Ricardo Brugni-Cruz
“Ainda vejo passar
o maquinista,
o guarda-freios,
lépido, o foguista,
a me acender a
lenha da memória.
Elas contam um
tanto desta história,
a que junta cacau
com coronéis,
da passagem
custando dois mil
Réis.”
O Trem Grapiúna
Soneto de Florisvaldo Mattos
O
poeta apontou para os trilhos carcomidos de salitre e ferrugem. Estavam há
muito soterrados no solo ressecado, mal encobertos pela vegetação seca e
rasteira. Adiante, ele disse: ruínas, foi o que sobrou da velha estação. Os
trilhos jaziam como ossadas tortuosas, vestígios de outra época, ossadas
antigas encravadas na memória do solo. Antigamente serviam à estação
ferroviária de Ilhéus. Agora o que se vê são pedaços de ferro abandonados pelo
descaso e incompetência — disse ele — vagas testemunhas de
caminhos da velha maria fumaça, outrora levando em seu bojo viajantes e
mercadores; apontam para o passado parecem gritar: aqui existiu a estação de
trens de Ilhéus... O poeta continua: o trem grapiúna passava por
Itabuna, Pirangy, Água Preta, Mutuns, Rio do Braço, Serra Verde, Santa Cruz,
além de servir a outras cidades que desapareceram ou ganharam nomes novos,
graças ao velho trem grapiúna... Margeava o Rio de Contas, na ida e de volta.
Fazia parte da paisagem junto à mata densa, protetora dos cacauais. O povo
fazia a festa, comemorava chegadas e partidas; velhas estações apodreceram,
foram transformadas em catacumbas.
Lembrou-me ele dos vagões destinados a passageiros com seus bancos inteiros e desconfortáveis, dos vagões de carga destinados ao transporte de toneladas de sacas de cacau para serem despachadas do porto ilheense para o mundo, enriquecendo os coronéis fazendeiros, compradores e donos da armazenagem do cacau. Os despejados ou fugitivos da seca do nordeste, homens e mulheres de outras e distantes regiões. A eles era exigida a dura tarefa da colheita, a quebra dos frutos, retirada das sementes polpudas para secagem e finalmente o ensacamento dos grãos.
Eu, Bruno, Dantas, Dori e Guga — além desses havia também uma garota, Irene, um pouco mais velha que Dori, dizia ter 16 anos enquanto nós outros estávamos na faixa dos 13, 14 e 15 anos. Sabíamos que a permanência do trem estacionado na estação, estava condenada a desaparecer. O trem partia daqui, da estação de Ilhéus, rumo às cidades vizinhas à Ilhéus e Itabuna, tendo como proteção densos trechos de Mata Atlântica, e de passagem era bafejado pelo ar salitroso vindo do Atlântico.
Cada vez menos, o trem ia e
voltava para novamente repetir o ciclo de ir e vir, carregado com sacas de
cacau empilhados nos vagões de carga. De algum tempo, seus vagões transitavam
quase vazios; insistentes, passageiros carregavam suas bagagens: malas,
caixotes, engradados nos quais agitavam-se galinhas, porcos, preás.
Eventualmente alguma caça defumada viajava envolvida num saco: teiú, paca,
veado, porco-do-mato... Durante a viagem era agradável ver-se a paisagem
tranquila dos tamarineiros, cajueiros, cajazeiras, coroados por aves diversas a
sombrear o cacaual. Saudavam a seu modo a passagem do trem, a soltar colunas de
fumaça branca que do alto das copas das árvores talvez fosse possível, para os
pássaros, enxergarem-na como se fossem nuvens sopradas por entre as engrenagens
do trem, para logo dispersarem-se e se desfazerem no ar, como algodão-doce na
boca de uma criança.
Foi Irene quem, certa manhã, nos
contou que iam mesmo acabar com a estrada de ferro. Nenhuma novidade, já
estávamos acostumados a assistir a estação ser desmontada. O trem teria o mesmo
destino. Mais dia, menos dia, acabariam com ele também. Aquela garota era filha
da cafetina e fazendeira conhecida como Dona Candu. A mãe possuía uma pensão
que servia aos viajantes de passagem pela região, como a alguns moradores de
Ilhéus. Acolhia viajantes das cidades próximas e também acolhia os que vinham de
cidades mais distantes. Além desses, havia os gringos que perambulavam com seus
baús de mercadorias. Viviam a bater de porta em porta na busca por compradores.
Entre eles, alguns eram representantes de firmas de perfumaria, artigos para
barbearias e salões de beleza, lojas e armazéns, além de diversos outros
artigos considerados de luxo, para o uso diário de homens e mulheres. Mercavam
ferragens de diversas utilidades para fazendas, e também muitos tipos armas de
fogo de diversos calibres e munições, para atender a todo tipo de
caçadores. A pensão de Dona Candu, além
do mais, servia de hospedagem para jovens prostitutas desembarcadas na região, que
atendiam aos fazendeiros e comerciantes endinheirados, onde eles as supunham
escondidas (bem como seus encontros), das fofocas das cidades. Não faltavam
mulheres jovens para satisfazer os apetites sexuais daquela gente.
De maneira que Irene, além de
ser, para nós, importante mensageira do que se passava na pensão de Dona Candu,
era ao mesmo tempo uma espécie de instrutora de atividades sexuais para nossa
turminha, já conhecida como “a turminha da estação” ou, “moleques da estação”. Não éramos nada bem vistos pelas famílias que
moravam nas cercanias da velha estação. Tampouco pelas famílias ditas de bons
costumes de Ilhéus. Não dávamos oportunidade a outros garotos das vizinhanças
que tentavam, vez em quando, invadir aquele espaço que havíamos conquistado.
Éramos bons de porrada para garantir a posse do “nosso território”, exceto
quando nos interessava a entrada deles para uma partida de futebol, mas
nem sempre, com permissão e tudo, as coisas não terminavam bem. Babas
costumam gerar ressentimentos, não podia ser diferente devido a nossa
permanente ocupação do território, discutíamos, brigávamos, então entrávamos em
guerra contra nossos “inimigos.” Nas batalhas usávamos, fartamente, bolotas de
mamona como munição facilmente colhidas nas moitas da planta mãe, encontradas
por todos os lados, dentro e fora do terreno da estação. Aquelas bolotas
esféricas e peludas eram disparadas por bodoques, nossas armas. Bodoques eram a
única que usávamos, de ambos lados. Irene era a melhor atiradora, sua mira era
perfeita, não perdia uma bala, “a arma” sempre apontada para a
coxa do inimigo, ali doía mais dizia ela. Essa era a minha Irene.
Nossa ou minha (minha
Irene), ela nunca foi, mas, apesar da vigilância e dos ciúmes esboçados por
Dori, ela mesma se excedia em atenções para comigo. Ele também manifestava seus
ciúmes para com ela, mas esbarrava na altivez de uma mulher dona de si.
Sabíamos por ela própria que o pai abusara dela vezes sem conta, desde pequena.
Contou-me, a mim e a Dori, que tinha uma irmã, Dora. Garota ainda, sofrera dos
mesmos abusos. Como se não bastasse Dora era oferecida aos hóspedes da pensão
em troca de dinheiro. Um belo dia Dora fugiu de casa em companhia de um
viajante vendedor de produtos odontológicos, sendo por ele abandonada em
Jequié, onde a jovem se entregou à prostituição. Daí nunca mais souberam dela.
O pai foi assassinado em uma feira de curtume por um cigano de quem era devedor
de algum dinheiro. A mãe encarregou-se de Irene, mas fingindo-se cega para o
que se passava, continuou estimulando a filha a vender favores sexuais para os
hóspedes que considerasse ilustres. Houve algumas tentativas frouxas da mãe
para que ela frequentasse a escola, mas as tentativas fracassaram por ser a
garota quem todos sabiam quem era (e quem era sua mãe). Com pouca escolaridade
e por esforço próprio, Irene aprendeu a ler e escrever com alguma dificuldade,
como demonstrava. O assunto (escandaloso) da pensão era de domínio público, não
havia como mãe e filha se livrarem da má fama, sobretudo cultivada por senhoras
da sociedade local, em geral religiosas e puritanas, que se consideravam
guardiãs “da moral, e bons costumes”, dos filhos das famílias grapiúnas.
— Na pensão — disse-nos Irene —,
os homens não cansam de falar que os políticos vão mesmo acabar com a estrada
de ferro. Não vai demorar, só esperam o asfalto da estrada de Itabuna para
Ilhéus ficar pronto; o cacau passará a ser transportado por caminhões, e ônibus
vão servir ao povo. Quem for rico terá de viajar dirigindo o próprio carro.
Essa conversa não era mais
segredo para ninguém. Só não se entendia por que a necessidade de serem usados
caminhões em vez de se continuar com a estrada de ferro... O trem é o
transporte mais limpo e eficiente do mundo, além de ser o mais barato, como
todo mundo estava cansado de saber. Pelo Recôncavo Baiano transitam até hoje
sobre trilhos, na mesma pista usada por automóveis, ônibus e caminhões.
Cruzam-se diariamente nas pontes, ruas e praças, e cada um segue seu destino e
pronto. O trem grapiúna há anos faz parte da paisagem, indo para além da região
cacaueira. Sua passagem sempre despertou desejos e fantasias, como se
pretendesse lembrar a todos os que existiam e contemplavam sua passagem, que
todos eram igualmente passageiros de uma mesma viagem.
Ninguém falava, embora todos
soubessem que os ricos odiavam a massa trabalhadora, pobres coitados que para
os endinheirados nenhuma diferença faria se andassem de carroça, a pé, ou
fossem extintos. Melhor que desaparecessem com a velha estrada de ferro e seus
vagões inúteis (assim julgavam), pois nem para transportar cacau serviam mais.
Aquela gente grapiúna se sentiria mais confortável se modernos meios de
transportes de passageiros viessem para a região e fossem acessíveis para
servir a todos. Navios, sim, por que não?... Os velhos e antigos navios da
Costeira precisavam ser aposentados. O mar era para todos, um novo porto estava
para ser inaugurado. Os ricos daquela época pensavam em carros importados,
carrões americanos de preferência, luxuosos, reluzentes, a bordo deles poderiam
desfilar pelas novas estradas asfaltadas, pelas ruas e praças das cidades do
interior (mas não para Ilhéus, já com ares de Capital!). Então, tivemos que
agir, não dava para esperar mais, aquele era o momento:
Manhãzinha após escondermos
entre arbustos, moitas e folhagens da mata adjacente as nossas bicicletas,
vimos que nossa amiga Irene já nos aguardava, ansiosa. Estava acompanhada por
Guga, garoto que de vez em quando dava as caras e era muito metido. Não
gostávamos dele por ser riquinho e espalhafatoso, metido a engraçado, sempre de
olhos e ouvidos abertos para tudo que fazíamos e dizíamos. Irene andava
irritada, nervosa: “Minha mãe me obriga ficar com o atual dela, um gringo
espanhol gorducho e fedendo a alho, ele vive me bolinando, passando a mão nos
meus peitos... na minha bunda, dá vontade de vomitar, de matá-lo... Hora dessas
boto fogo naquela pensão... e desapareço, como fez minha irmã!”, ameaçava.
Dori e Irene buscavam o
matagal em frente do que ainda era o terreno da estação. Escondiam-se de
olhares intrusos. Agiam como um casal e não devíamos perturbá-los. Fazíamos
silêncio, vários olhares pregados na mata, eram momentos angustiosos para mim
que ficava a imaginá-los em cenas de sexo. Passava o resto da manhã irritado,
brigava por qualquer motivo que me tirasse do sério. Ninguém poia falar alto,
dar risadas ou o que fosse... Quando os dois afinal retornavam ao nosso
convívio, tudo voltava ao normal, eu disfarçava o sentimento que me
corroía por dentro. Da última vez minha irritação foi ainda maior porque o
administrador da “estação” estudava cercar a área, o que significava acabar com
nossos encontros, jogos e brincadeiras, interditar “nosso espaço”, em
definitivo. Já circulava a notícia, inclusive nos jornais de Itabuna e no de
Ilhéus que o trem Grapiúna estava com os dias contados, logo faria sua última
viagem. Como ambos jornais, tanto o de Ilhéus como o de Itabuna, noticiavam.
Foi a conta. Para nós era o bastante! Então brotou a ideia de vingança. Não
demorou muito, sabíamos como e o que deveríamos fazer. No dia seguinte da
partida do trem (seria aquela a última?), nós o faríamos descarrilar, a velha
maria fumaça não passaria da ponte da Barra de Itaípe! Com nossas bicicletas
carregamos mais que o necessário para a descarrilharmos: pedras, galhos de
árvores, pedaços de ferro velho, palmeiras dos coqueiros endurecidas pelas
marés, curtidas e endurecidas pelo sol, e o que mais encontrássemos com cara de
ser capaz de descarrilhar um trem!
Uns dois dias depois da nossa
decisão, só aguardamos o anoitecer após a partida do trem e todo material que
recolhemos espalhamos estrategicamente sobre os trilhos, antes da ponte da
Barra de Itaípe. Assim fizemos. Que se fodessem, trem e maquinista, foguista e
passageiros e quem mais nele tivesse embarcado naquela última viagem. O trem
voltaria à estação pelo meio da manhã do dia seguinte. Então saberíamos.
Tudo feito como de acordo,
contritos, voltamos, cada um para sua casa; juramos por todos os santos e
bradamos: piripicado, rebocado e amaldiçoado para sempre quem
abrisse a boca e nos delatasse. Como poderia haver vítimas fatais, exigimos
segredo entre nós. Aquele era um pacto sagrado, portanto: piripicado o
filho (ou filha) da puta que vazasse o que passou a ser nosso segredo, estava vaticinado
nas entrelinhas do nosso dito que algo de muito ruim aconteceria para quem
quebrasse o juramento... Aquele aviso
era para ser levado a sério!
No fundo não esperávamos, eu
particularmente não esperava, nem desejava sequer a possibilidade de que um de
nós fosse apontado como suspeito pela tragédia. Seria o mesmo que denunciar a
todos nós. E se alguém resolvesse dar com a língua nos dentes? O medo, a culpa,
tomaram conta de mim: e se alguém morresse? E se fossemos denunciados? Torcia
para que não houvesse passageiros naquela viagem... E se houvesse? Pequenos
ferimentos era possível acontecer: gente ferida... era possível, mas mortes?...
morrer alguém, o maquinista?... Era demais...
E o desgosto que eu causaria aos meus pais? Haveria investigação e
seríamos descobertos. Não consegui dormir, passei a noite de olhos abertos, o
corpo tenso voltado para a parede... Acordado, tive pesadelos e pensamentos com
desastres de trens... Somente comentei com Dori, antes de ir para casa, toda
minha angústia. Acho que nem o impressionei. Ele estava muito seguro e
consciente de que “todos agimos como homens valentes. Era o que deveria e ser
feito e fizemos!” “E Irene?... E Guga? Acha que vão segurar a língua?...”
Perguntei. Dori deu de ombros.
Manhãzinha, pulei da cama e
parti com minha bicicleta. Passei a madrugada de olhos abertos e orelhas em pé.
Dava para ouvir do meu quarto o apitar do trem. Ouvi com nitidez a frenagem súbita, tinidos de
metais se entrechocando... Gritos abafados de pedidos de socorro... Desesperei
com o reverberar de sons angustiantes dentro do meu peito, sons que subiam para
explodir dentro da minha cabeça... Segui à toda, pedalando, pedalando, o
coração disparado, ofegava... Entorpecido, enfim, o vi intacto, estava lá,
estacionado, todos os vagões inteiros. Cinco ou seis. Nuvens brancas de fumaça
eram expiradas de sob suas rodas a intervalos, chiavam como suspiros de alívio
que vieram se confundir com os meus. Vozerio indistinto partiam da cabine da
locomotiva, tudo parecia controlado, homens conversavam, não pareciam
angustiados. O maquinista pressentira o perigo, conseguiu frear a locomotiva
diante do amontoado de galhos, ferros, pedras; destroçados, havia restos das
palhas de coqueiro endurecidas...
— Só pode ser obra desses
índios pataxó, só pode...
De onde estava ouvi um dos
homens dizer e todos concordaram que sim. Era o que deveria ser feito,
providências contra eles. Imaginei-os armados com carabinas e revólveres
prontos para darem cabo da última nação pataxó.
Afastei-me da estação e percebi que daquela manhã em diante seria
proibida nossa presença e encontros naquele espaço aberto da estação — foi como
tudo aconteceu.
Na manhã seguinte toda a área
passou a ser muito vigiada e logo foi cercada com estacas de concreto
perpassadas por arame farpado. Talvez os últimos viajantes da nossa
maria-fumaça tenham se prestado a ajudar na remoção do que havíamos espalhado
por entre e sobre os trilhos. Por via das dúvidas, deixamos de comparecer para
nossos encontros no espaçoso terreno da estação; logo todo o espaço foi tomado
por novos ocupantes. Homens armados com cassetetes, passaram a ser vistos onde
antes o espaço era nosso. A amizade com Dori continuou por muito tempo. Nunca
mais eu soube de Irene. Nem perguntei a ele por ela.
Aquele espaço antes gramado,
que primeiro foi cercado, depois murado, em seguida pavimentado com concreto, e
sobre o concreto, enfim, foi instalado um memorial: uma locomotiva sucateada,
que operários mantinham bem conservada, talvez a mesma que antes trafegara
livre sobre os trilhos que pisávamos agora. Os mesmos sobre os quais a
locomotiva conduzira seus vários vagões neles transportando passageiros,
mercadorias, mercadores e toneladas de cacau, os mesmos agora soterrados,
inertes e soterrados para sempre, enquanto a locomotiva reluz brilhante e
estática como um mausoléu de aço. No trem grapiúna funcionara uma pequena lanchonete.
No atual “mausoléu”, como eu soube, fora instalada uma lanchonete para a
criançada que, acompanhada por familiares comparecia (e talvez até hoje ainda
compareça) durante os fins de semana, para se divertir na estaçãozinha, como
passou a ser chamada. Trepadas nela por
todos os lados, as crianças abraçam-na, balançam-se, escorregam por seus metais
polidos, e uma ou outra, tomando posição como condutor da maria fumaça, dá
ordens e exige que se comportem. Mas elas brincam, não lhe dão atenção enquanto
suas companheiras fingem-se maquinistas, foguistas e passageiros.
Bahia, setembro, 2024.
COMENTÁRIO E SUGESTÕES DE FM
(Em
17.10.2024)
Boa-tarde, caro Ricardo, romancista e
contista.
Como lhe disse, li e muito me agradou
a leitura de seu expressivo conto "O Trem Grapiúna", não apenas como
um belo salto imaginativo, mas especialmente pele que revela e contém de
criatividade literária e de redação ficcional, tendo como eixo temático a
saudosa Estrada de Ferro de Ilhéus, que a mão maldita de um cascalhoso general
então ministro dos Transportes, da ditadura, Juarez Távora, extinguiu com um
árido decreto, em 1965, esquecendo tudo que ela forneceu em favor do
desenvolvimento econômico e cultural, da região cacaueira, permitindo inclusive
o surgimento de arraiais, vilas e cidades.
Pois é, seu precioso conto tem sua
fabulação justamente na remontagem evocativa de rica vivência juvenil nos
arredores da então estação desta gloriosa ferrovia, na cidade de Ilhéus, que
em tempos remotos era chamada de Princesinha do Cacau. No núcleo de seu
conteúdo construtivo e editorial, seu conto oferece um panorama e um
retrato do que foi este grandioso meio de locomoção, em linguagem precisa de
contornos de prosa realista e comovedoras, emoldurando um triste quadro de um
sonho marcha fatal para a infelicidade, tudo revelado pela pureza juvenil dos
personagens.
Como não sou crítico literário, nem
possuo conhecimentos teóricos para avaliação de algum peso sobre esta sua bela
criação ficcional, dentro de um mapa criativo, pelo qual transitaram grandes
nomes da literatura nacional (Jorge Amado, Adonias Filho, Hélio Pólvora e uns
poucos mais), fico por aqui, para lhe fazer as anunciadas duas sugestões de
momento, embevecido com o que a leitura desse conto de mim se apossou. Em
princípio, deixo a seu pessoal e competente critério a viabilidade do que
proponho.
Em primeiro lugar, sugiro que se
ofereça este precioso conteúdo à diretoria da Revista da Academia da Letras da
Bahia, para integrar o elenco de publicações, constantes da separatriz
intitulada FICÇÕES, do seu próximo número 63, já que o 62, de 2024 já se
encontra em fins de sua programação. Como vê, é uma sugestão, ficando a decisão
de importância e oportunidade totalmente com o seu autor.
A outra é mais uma afoiteza de rastro
juvenil. Não sei se o amigo sabe, mas possuo um blog, no qual me
aventuro a postar conteúdos, como a recordar os meus tempos de editor do
caderno A Tarde Cultural, que também infelizmente já não mais existe, num
estado em que a cultura é apenas um amontoado de ilusões levadas pelo vento.
Pois bem, a proposta que ouso lhe fazer é ter a honra de incluir esta sua breve
peça literária numa dessas minhas audácias, justamente a que resolvi produzir,
a partir da novela RENASCER, nos seus inícios, em que demonstrava tomar o cacau
e a tragédia que lhe causou a praga da vassoura-de-bruxa. Com todas as suas
frustrações e pobre imaginação teatral, a novela foi-se para o beleléu, mas
esta minha ousadia editorial e jornalística permanece acessível a quem
interessado for.
O que afoitamente pretendo?
Justamente, incluir este seu belo conteúdo literário, na parte cuja ilustração
é uma antiga foto da estação da estrada de ferro de Ilhéus. Para lhe dar total
liberdade de pensar e agir, envio-lhe abaixo o link desta aventura,
praticamente em forma de construção editorial. Com isso, retorno aos de
infância, adolescência e mocidade, quando muito transitei por esta saudosa
ferrovia, desde Uruçuca, Itabuna e Ilhéus, ida e volta. Veja abaixo o citado
link.
Muito obrigado.
Receba o meu fraternal abraço
grapiúna, com votos de feliz e alegre fim de semana.
Florisvaldo
https://florisvaldomattos.blogspot.com/2024/02/jacutinga-nome-de-serra-num-bordel.html
Muito bom, gostei.
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