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| Pannonica Rothschild e seu grande amor o pianista de Jazz Thelonious Monk |
A mulher que largou tudo
por Thelonious Monk
Rachel Cooke
10 de
Junho de 2012
Ouviu Thelonious Monk tocar piano uma vez e
abandonou a sua vida, cinco filhos incluídos, para se dedicar ao génio
americano do jazz. A baronesa Pannonica de Koenigswarter foi deserdada pela
família Rothschild e a sua neta-sobrinha, Hannah Roths-child, conta a sua
incrível história
No século XIX, o ramo inglês da poderosa e muito
rica família Rothschild construiu a maioria das suas casas de campo no Vale de
Aylesbury, razão pela qual me encontro numa manhã de nevoeiro de março em
Waddesdon Manor, uma fiel réplica vitoriana de um castelo francês. "Acho
que esta casa lhe vai transmitir a ideia de como vivia a família", diz
Hannah Rothschild, a minha anfitriã. "As cortinas corridas para proteger a
arte, os almofadados e os drapejados a criar um efeito sombrio. Estas eram
casas à prova de ruído, o das crianças incluído." Crescer numa casa a
abarrotar de criados - em Tring Park, que fica no final da estrada, eram os
lacaios que levavam as cerejeiras à mesa para que os convidados tirassem a
fruta diretamente da árvore - e submersa numa rotina imutável como o mármore
era como viver numa gaiola dourada.
Hannah quer que eu absorva esta atmosfera,
asfixiante e introspectiva, porque ela acredita que explica, pelo menos em
parte, a extraordinária vida da sua tia Pannonica, também conhecida por Nica,
objeto do seu avassalador novo livro, The Baroness (A
Baronesa).
Nica, nascida em 1913, cresceu em Tring Park (Tring
é agora uma escola; Waddesdon Manor é administrado por um fundo presidido pelo
próprio pai de Hannah, Jacob, mas está desde 1957 sob alçada do National
Trust). Era ali que Nica deixava correr os dias da sua juventude, enfiada num
formal vestido branco enquanto aprendia as artes da costura e do piano: para os
seus pais, que não concordavam que as raparigas fossem à escola, correr ou
brincar às escondidas eram devaneios proibidos para não estragar a roupa. Uma
vida monótona e maçadora mas que Nica, desconhecendo-lhe alternativas, nunca
pensou contrariar. Em 1934, a seu devido tempo, ela foi apresentada à sociedade
e o seu casamento em 1935 com um bonito diplomata francês, o barão Jules de
Koenigswarter, não surpreendeu, apesar de muito distante do par perfeito
sonhado pela sua ambiciosa mãe. Ele era controlador, mas ela estava habituada a
isso.
Em 1948, contudo, algo mudou. A caminho do
aeroporto depois de uma viagem a Nova Iorque, Nica parou para visitar o amigo e
pianista de jazz Teddy Wilson, que a pôs a ouvir a gravação de Round
Midnight por um então desconhecido pianista, Thelonious Monk.
Incrédula e fascinada, ela ouviu a gravação vinte vezes seguidas. Perdeu o
avião e nunca mais voltou para casa. Para trás deixava marido e cinco filhos.
Instalou-se numa suíte do hotel Stanhope e dedicou-se a descobrir o homem que
tinha feito aquela música extraordinária. Obviamente, chegar ao errático Monk
levou-lhe tempo. Foi só em 1954 - e teve de viajar até Paris para o encontrar
olhos nos olhos. Era o homem com quem ela sonhara? Oh, sim. Ele era "o
homem mais bonito que já tinha visto", disse. A partir dali, não haveria
hipótese de recuo. E nos 28 anos seguintes, Nica dedicou a sua vida a
Thelonious Monk. Aos seus olhos, nada do que ele fizesse poderia estar errado.
Era um génio, puro e simples, e tudo fazia - não havia dinheiro que não
gastasse, lugar onde não fosse - para lhe facilitar a vida.
A Hannah, levou-lhe quase o mesmo tempo para
escrever sobre Nica. Tinha 11 anos quando ouviu falar pela primeira vez nesta
improvável parente, pelo seu avô Victor, outro Rothschild extraordinário
(Victor ficou famoso por fazer esqui aquático vestido com um roupão
Schiaparelli). "És como a minha irmã", disse enquanto Hannah tentava
dominar o blues de 12 compassos. "Adoras jazz,
mas não é à força que vais aprender a tocá-lo." Hannah já conhecia as suas
outras tias-avós, Liberty e Miriam, mas esta Pannonica permanecia um mistério.
Quando inquiriu o pai, ele apenas lhe disse: "Nunca ninguém fala sobre
ela." Quando perguntou a Miriam, ela disse: "Ela é a Peggy Guggenheim
do jazz" e "ela é ordinária".
Mas os rumores que Hannah ouvia eram assustadores.
"Ela é conhecida como a Baronesa do Jazz", "Charlie Parker
morreu no seu apartamento", "ela vivia com 306 gatos", "24
canções foram escritas para ela", "perseguiu Miles Davis pela 5.ª
Avenida abaixo", "foi para a prisão para que ele não fosse"...
Por isso, quando Hannah aterrou pela primeira vez em Nova Iorque, em 1984,
decidiu telefonar-lhe. "Quer encontrar-se comigo?", perguntou em tom
nervoso. "Espetacular" respondeu-lhe a tia-avó, que tinha então 71
anos. "Aparece no clube da Baixa depois da meia-noite." E informou Hannah
que reconheceria o sítio pelo grande Bentley azul-pálido estacionado à porta.
Hannah Rothschild tinha então 22 anos e "não
estava à altura das expectativas, reais ou imaginadas, da minha distinta
família". Era como se Pannonica, alguém que se regia apenas pelos seus
próprios critérios e com sucesso, lhe atirasse uma espécie de salva-vidas. A
própria existência de Nica mostrava o quanto alguém pode escapar ao seu
passado. "Olhei para o outro lado da mesa, para esta recém-descoberta
tia-avó", escreve Hannah no seu livro, "e veio-me um súbito e
inexplicável laivo de esperança. Qualquer estranho que entrasse no clube
naquele instante veria apenas uma velhota a chupar o seu cigarro, enquanto
ouvia o pianista. Poderia interrogar-se sobre o que faria ali aquela mulher
enfiada no seu casaco de peles e brincos de pérolas, gingando ao som da música
e abanando a cabeça sempre que apreciava um solo. Eu via uma mulher que se
sentia em casa e que sabia que era ali que pertencia". A sua tia tinha
algum conselho para lhe dar? Apenas isto. "Lembra-te: só existe uma
vida", disse.
Hannah regressou a Londres para começar finalmente
a trabalhar na BBC ("onde sempre quis trabalhar, mas as cartas de rejeição
teriam dado para forrar uma parede", diz). Ela e a tia encontraram-se
apenas mais duas vezes; em 1988, Nica morreu subitamente na sequência de umby-pass.
Mas, por essa altura, já Hannah estava viciada. Queria saber tudo sobre a vida
misteriosa desta tia, destrinçar a realidade da ficção. Enfrentando alguma
oposição da família, para quem uma das prioridades, diz, é "o secretismo
obsessivo", decidiu-se a investigar a história pelos seus próprios meios.
Não foi fácil. As mulheres da família Rothschild recusaram-se a atender os seus
telefonemas; e ainda recebeu duas cartas com ameaças. Os filhos de Nica, que
num primeiro momento se tinham mostrado entusiasmados com a ideia de um livro,
acabaram por nunca cooperar. "Não posso falar por eles, mas talvez tenham
sentido que tinham algo para proteger, aquela era a história deles, não a
minha. Se pensam que foi uma devassa? Não sei."
No fim, chegou lá. Desde então, Hannah fez um
documentário para a rádio sobre a sua tia e um filme - e agora, finalmente,
escreveu a sua biografia. Terminou? "Sim", ri-se. "Agora vou
fazer uma pausa, prometo. "E resolveu o mistério de Nica e Monk? Eram
amantes? Apenas bons amigos? (Monk tinha uma mulher que lhe era devota, Nellie,
de quem nunca se separou oficialmente). "Não penso que fosse um amor
intenso, fervoroso", diz. "Há a tendência para sexualizar qualquer
relação, especialmente aquelas que atravessam classes sociais e raças. Sempre
que olhamos para Nica com ele (em fotos ou no filme) vê-se que ela está
apaixonada: a maneira como o contempla, a forma como lhe estendeu toda a sua
vida aos pés como um manto dourado de devoção. Mas não acredito que o sexo
tenha estado no âmago de tudo, porque se assim fosse não duraria tanto. Foram
30 anos a ser testada [por Monk] até ao limite. E isso terá sido difícil.
Pensei intensamente no assunto. Não queria retratá-la como uma groupie triste
e cheia de dinheiro. Ela usou-o? Ele usou-a? E por que é que Nellie aguentou
tudo? É que Nellie nem precisava do cariz sexual para se fartar daquela
situação."
Os derradeiros anos de Monk, quando a sua saúde
mental o levou a desaparecer de vez da cena jazzística, foram passados na casa
infestada de gatos de Nica em New Jersey. Mas no seu funeral - Monk morreu de
ataque cardíaco em 1982 - Nellie e Nica sentaram-se lado a lado na primeira
fila da igreja e todos apresentaram as suas condolências, a uma e outra, como
se ambas fossem viúvas.
Hannah Rothschild cresceu, não num palácio, mas em
Maida Vale, na parte ocidental de Londres, numa casa que é agora sua
(divorciada, é aí que vive com as três filhas adolescentes). Quando é que
percebeu, afinal, que a sua família não era como as outras? "Não creio que
alguma vez o tenha percebido. A nossa família é tão-somente a nossa
família."
A sua tia-avó Miriam, uma famosa entomologista,
vivia numa enorme mansão de campo, Ashton Wold, tão coberta de madressilvas e
flor-de-mel - um chamariz para os insetos - que no Verão era quase impossível
vislumbrar-se de fora. "Os animais de estimação dela eram uma coruja e uma
raposa. O meu avô Victor (também ele um famoso cientista) também tinha uma
coruja de estimação que costumava voar por ali a piar. Claro que percebia que
eles eram excêntricos, mas isso era tudo quanto sabia. De uma coisa tinha a
certeza, contudo, é que eles eram algo assustadores. Eram ambos intelectuais
ferrenhos que não suportavam pessoas patetas. Se alguém os aborrecia, essa
pessoa ficava logo a saber porque eles lhe diziam diretamente. E se fosse
preciso saíam da sala a meio da conversa. [Rothschild] é um apelido de peso
para se ter. É sinónimo de banca, judeus e dinheiro. Mas, do meu lado, havia
ainda este extra de ser intelectual e academicamente reconhecido. Não me sentia
filha de banqueiro [o pai, Jacob, é um bem sucedido homem de negócios, tal como
o seu irmão Nat]. Mas também não me sentia à altura daquele outro lado. Claro
que há enormes vantagens -enormes - de crescer num mundo assim.
Vantagens financeiras, claro, mas também por saber que as pessoas se recordam
do nosso nome, abrem-se-nos portas. Não posso ficar aqui sentada a queixar-me e
a dizer: pobre de mim. Tive uma sorte incrível."
A ascensão da família parecia imparável até à
Segunda Guerra Mundial, a partir da qual a fortuna foi delapidada - qualquer
coisa como 3.500 obras de arte foram roubadas pelos nazis e muitas das empresas
da família nacionalizadas. "Há sete gerações, vivíamos numa casa com 4,2
metros de comprimento, num gueto em Frankfurt", diz. E não
parecia haver escape possível ao gueto até, de uma forma algo irónica, (em 1790)
os franceses terem bombardeado, derrubando os muros para que finalmente os
judeus ficassem livres."
Foi nesta altura que Mayer Amschel, o patriarca dos
Rothschild, tomou a famosa decisão de enviar os seus cinco filhos para cinco
capitais europeias onde, entre si, vieram a criar o maior banco do mundo. E
destes cinco, foi Nathan Mayer, o tetravô de Nica, quem chegou a Inglaterra em
1798 sem formação académica, sem falar inglês, e quem estava mais empenhado em
ter sucesso. No final do século XIX, o ramo britânico da família tinha um
título, uma colecção de arte incalculável, muitas propriedades imobiliárias
(Hannah mostra-me um quadro que ilustra 40 casas Rothschild) e era ouvido pelo
primeiro-ministro.
O pai de Nica foi Charles Rothschild. Tal como o
seu irmão zoólogo, Walter, que transformou os terrenos de Tring num
extraordinário parque de vida selvagem com cangurus, tartarugas gigantes, emus,
rheas, casuares, e que conduzia uma carruagem puxada por zebras, Charles tinha
uma paixão por história natural. Era um fervoroso entomologista amador e chamou
à sua filha mais nova Pannonica, o nome de um insecto da família das
borboletas. Mas este não era um interesse que tivesse liberdade de perseguir.
Pelo contrário, todos os dias tinha de vestir o fato e ir trabalhar no banco da
família. Não lhe assentava bem.
Charles sofria também de uma doença mental que
poderia ou não ser esquizofrenia (tal como, mais tarde, uma das suas filhas,
Liberty). Às vezes, ficava dias sem dizer uma palavra. Noutras ocasiões,
tornava-se maníaco, incapaz de dormir ou parar de falar. À medida que foi
ficando mais velho, os intervalos entre estes episódios foram-se tornando cada
vez mais curtos. Finalmente, em 1923, entrou numa casa de banho, trancou a
porta e cortou a garganta com uma navalha.
Hannah acredita que o suicídio de Charles está no
centro da sua ligação improvável a Monk, que sofria de uma doença semelhante,
com sintomas parecidos. "A morte do seu pai foi incrivelmente violenta,
mas depois disso nunca mais foi mencionada: o suicídio ainda era ilegal. Quando
ela conheceu Thelonious, deve ter sentido ressonâncias enormes. Ele tinha um
comportamento muito parecido com o de Charles, e Charles foi obrigado a levar
um certo tipo de vida, a ir todos os dias para o escritório, quando o que ele
gostava de fazer era colecionar borboletas. As suas tentativas apaixonadas de
dignificar a vida de Thelonious, de o proteger, de dizer que não fazia mal ele
passar o dia inteiro a dormir se era isso que ele queria ou precisava... Estou
certa de que esta era a sua maneira de remendar uma injustiça anterior. Foi uma
espécie de compensação. Em troca, ele deu-lhe um objetivo, um incrível
sentimento de pertença. Se pensarmos nela como uma mulher que foi expulsa da
família, isso é bastante assustador. Mas Thelonious e todo o grupo de músicos
disseram-lhe: vem e faz parte disto. Nós ficamos contigo."
Monk não foi o único a escrever uma canção para
Pannonica. Também o fizeram Art Blakey, Sonny Clark, Kenny Drew e pelo menos
mais uma dezena de outros.
Mas a vida em Nova Iorque também teve um lado
negro. Em 1955, Nica foi expulsa da sua suíte no Stanhope quando Charlie
Parker, depois de lhe bater à porta uma noite sem ter mais ninguém a quem
procurar, entrou em asfixia e morreu ali (ela disse ter ouvido um trovão quando
a vida o deixou - um som que desde então faz parte do folclore do jazz).
Em 1958, Nica decidiu levar o empobrecido Monk a
um gig em Maryland. Numa terra chamada New Castle, em
Delaware, estacionou o carro à porta de um motel para ele ir à casa de banho.
Enquanto esperava, a polícia aproximou-se; nesta parte dos Estados Unidos, uma
mulher branca e um homem negro juntos era suficientemente invulgar para chamar
a atenção. Seguiu-se uma discussão. Monk foi agredido. A polícia fez uma rusga
ao carro. Quando encontraram marijuana, Nica sabia exatamente o que tinha que
fazer. Monk estava demasiado frágil para ir para a prisão. Ela disse que a
droga era dela.
As consequências deste momento de coragem foram
desastrosas. Nica incorria numa pena de dez anos de prisão, seguida de
deportação imediata. A sua vida com Monk chegaria ao fim, mas a perspectiva de
regressar a Inglaterra era-lhe ainda mais penosa. Como é que a sua família iria
reagir? Iria o marido deixá-la ver os filhos? "Deve ter sido
assustador", diz Hannah. "Descobri finalmente quão assustador numa
carta que escreveu à sua amiga Mary Lou Williams na noite anterior ao
julgamento, em janeiro de 1962. Está em Delaware. Escreve a dizer que vai a uma
igreja acender uma vela. Escreve: "Este é o dia do qual todo o meu futuro
dependerá." Diz que não consegue falar com Thelonious ou Nellie sobre isso
porque eles têm as suas próprias preocupações. Ela estava totalmente sozinha.
Sofri muito por ela. Onde estão todos?, pensei." No final, porém,
aconteceu um milagre: o caso foi anulado devido a uma questão técnica, com o
advogado a argumentar que os polícias revistaram o carro sem a autorização
dela.
Em The Baroness, Hannah conta esta
história com cautela, equilibrando a tensão narrativa com um desejo de
apresentar todos os factos para que os leitores possam formar as suas opiniões.
Tal como o resto do livro, prende-nos totalmente. Será que vai escrever outro
livro, ou vai voltar ao seu primeiro amor, o cinema? "Estou a trabalhar
num romance. É uma coisa estranha. Tendo sido realizadora de documentários
durante quase toda a minha vida adulta, de repente, não tenho a certeza de
continuar a sê-lo."
Torna-se cada vez mais difícil encontrar produtoras
para o tipo de filmes - detalhados, minuciosos, de digestão lenta - que ela
faz. O seu maravilhoso documentário sobre [o político trabalhista] Peter Mandelson,
filmado como se fosse uma mosca na sala nas vésperas das eleições de 2010
(aquele em que ele come um iogurte de uma forma que parece uma doninha a comer
um rato do campo), não recebeu apoios e só o vendeu à BBC4 depois de terminado.
"Foi muito embaraçoso. Ele perguntava "Como vai o nosso filme?"
e eu tinha de lhe dizer que não sabia." Voltou a falar com ele desde
então? "Ele viu o filme, gostou e foi tudo". Mandelson é amigo do seu
irmão Nat (foram famosas as férias de Mandelson na sua casa em Corfu). Mas
Hannah não pode falar de Nat. "Ele detesta mesmo que o faça. Adoro o meu
irmão. É uma pessoa fantástica. Mas tenho de respeitar isso."
Para os estranhos, a admiração é que ela
simplesmente trabalhe. Muitas pessoas com a sua ascendência teriam ido para
Oxford, como ela foi, e permitido que o fundo patrimonial desse cabo delas.
"Sim", diz ela. "Mas a verdade é que o trabalho é muitíssimo
interessante. É aquilo em que nos podemos apoiar realmente e é tão excitante -
o meu pai ensinou-me isso. Mas, enquanto escrevia o livro, pensava na ética do
trabalho, na forma como persiste na nossa família. Ao contrário das famílias
aristocratas britânicas, talvez não nos tenhamos esquecido de onde
viemos."
Em relação ao dinheiro, "fiz as minhas pazes
com ele... se andasse por aí sem qualquer propósito talvez sentisse de forma
diferente, mas a herança permite-nos fazer coisas boas na nossa fundação. Acho
que está totalmente correto que as pessoas que têm mais devem dar e tornar
melhor a vida dos que não têm. O meu pai está a planear doar o seu dinheiro.
Até já começou, e ainda bem para ele".
Descemos para o andar de baixo, para dar uma volta
à casa, enquanto gozo o prazer tonto de passar por cordas de veludo e entrar em
portas com placas a dizer privado. A
casa é linda, mas, como ela salienta, foi um projeto isolado. Os Rothschild não
tinham mobília para herdar e estes interiores foram uma cortesia de dois hotéis
franceses que estavam a ser demolidos depois da recuperação de Paris feita pelo barão de Haussmann (em finais do século XIX). Gostaria que ainda estivesse na família?
"Meu Deus, não", disse com um gesto teatral. "Mas escrever o meu
livro fez-me entender estas casas. Eram uma forma de a família se ancorar, de
mostrar ao mundo que tinha relevância. Quando pensamos nisso, esta casa é um
cartão de visita a três dimensões."
Exclusivo de PÚBLICO (Lisboa-PT)/ The Guardian (Londres)
Lester Young, um dos maiores do sax-tenor, ao lado de Hawkins e de Ben Webster
LESTER YOUNG, THE PREZ, DO SAX-TENOR, (1909-1959)


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