sexta-feira, 19 de junho de 2020

FM: ADEUS, JOCA PENA DE AÇO

A passagem de João Carlos Teixeira Gomes (Joca Pena de Aço) foi destaque de primeira página 

Fui dormir ontem com um telefonema do jornalista Nestor Mendes Jr., em que me informava que o radialista Mário Kertész lhe comunicara que o jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes, Joca Pena de Aço, acabava de se despedir da vida. Perguntava-me se eu já soubera.
Hoje, acordei, com a confirmação deste tristíssimo acontecimento: o extraordinário Pena de Aço se havia ido definitivamente.
Na quarta-feira, ante notícia apressada que circulou pelas redes sociais, o jornal A Tarde, do qual Joca foi um dos mais notáveis e respeitados articulistas, procurou-me para que emitisse uma declaração sobre o grandioso jornalista, para compor o conteúdo de reportagem, que estaria em preparo, no caso de acontecer o pior, desde que havia informação de que o quadro de saúde dele piorara, na terça-feira, assustadoramente.
Pedindo licença ao jornal, transcrevo abaixo o que enviei para o repórter Eugênio Afonso, compreensivelmente longo, a que daria o título de ADEUS, PENA DE AÇO, se o escrevesse hoje (não sei se na notícia fúnebre de hoje foi aproveitado).
Ilustro com uma foto, em que aparecemos eu, Joca, Calasans Neto, Antônio Guerra Lima (Guerrinha), Hélio Oliveira, com outros da Geração Mapa, em peraltice noturna de inícios de 1960.

***
A minha relação de amizade com Joca (João Carlos Teixeira Gomes) se forjou em duas frentes: a do jornalismo e a da literatura. Começamos pela literatura, ambos como integrantes da chamada Geração Mapa, que, sob a liderança de Glauber Rocha, funcionou como um dos marcos da era de avanços culturais que aconteceram na Bahia, a partir da reforma da Universidade da Bahia, sob a batuta do reitor Edgar Santos, ao longo das décadas de 1950 e 1960. Conheci-o ainda no tempo em que o grupo inicial liderado por Glauber levava a série de espetáculos de poesia teatralizada, sob o título de “Jogralescas”, no auditório do Colégio da Bahia (depois Central), nos anos de 1956 e 1957, ele estudante secundarista e eu, já universitário, causando uma revolução no meio seletivo cultural baiano, pela novidade da poesia moderna declamada com impulso vertiginoso.
A identidade inicial centrou-se no interesse por literatura, poesia, artes plásticas, teatro, cinema e jornalismo, por onde trilharam os membros daquela luminosa geração. Tudo se desenvolvia pela ideia de companheirismo de que eram possuídos os seus membros, desde reuniões em hall de faculdades, presença em exposições de arte, sessões de cinema, até encontros em bares, cantinas e boates. Em todos esses campos da cultura os membros da Geração Mapa brilhavam, eram admirados, seguidos, elogiados e imitados.
E Joca era um dos luminares do grupo, pelo tanto de inteligência, conhecimento cultural e literário e qualidade da escrita, como poeta e ensaísta, tornando-se, depois de Glauber Rocha, a expressão máxima da Geração Mapa, pelo futuro que, já nos tempos das Jogralescas, se desenhava no seu desempenho e atitudes. Quando começou a publicar livros quase em série, de poesia e ensaios, a admiração por sua criatividade e espírito altamente sensível cercou-se de uma multidão de admiradores de sua lavra poética, literária e cultural. Além disso, o sentimento de camaradagem eleva-se também como um dos traços de sua personalidade, sempre inquieta, perscrutante, decidida e ativa, qualidades que lhe delineavam a figura de homem sério e honesto.
Foi por aí que a nossa amizade floresceu, mas alicerçou-se ainda mais quando nossas vocações desaguaram no jornalismo impresso. Ambos já estudantes de Direito, começamos como repórteres iniciantes na redação do hoje extinto “Jornal da Bahia”, que se preparava para a fundação em meados de 1958, produzindo números Zero, ao lado de Glauber e dois outros amigos geracionais, Paulo Gil Soares e o gravador Calasans Neto (Calá), tendo como mestres jornalistas do quilate de João Batista de Lima e Silva, redator-chefe, Ignácio de Alencar, secretário de redação, e Ariovaldo Matos, chefe de reportagem, além de outros grandiosos nomes da profissão.
E aí pareceu que, para nós, eu e ele, se descortinava um horizonte de expectativas e vontades, capaz de tornar o jornalismo uma fatalidade para toda a vida, especialmente no caso dele, que, ao longo de carreira vitoriosa, de repórter de geral, evoluiu para o desempenho de altos cargos, culminando para encerrá-la no seu posto mais alto, o de redator-chefe do “Jornal da Bahia”, no qual tive a honra de ser um de seus comandados, mas dele se afastou sem largar o exercício da escrita em que se revelou um exemplo, ao produzir artigos para vários veículos impressos, com uma tal firmeza de intensidade e espírito de combate contra atos, posturas e desvios maléficos de muitos para a sociedade, que acabou por alcançar o codinome de “Pena de Aço”, de que ele muito se orgulhava por força de caudaloso reconhecimento, a fulgurar como um prêmio na profissão.
Fortalecida pela sinceridade, fidelidade e gestos comuns de admiração e respeito, a nossa amizade frutificou, chegando a essa altura à soma de nada menos que 64 anos, sem nenhuma mancha de ordem moral, profissional e intelectual, o que muito me orgulha e engrandece. A prova disso é que, bem antes do acidente de saúde que sofreu em São Paulo, que lhe atormentou e fragilizou a vida, escrevi um soneto, a ele dedicado, e entreguei em suas mãos, pelo transcurso de seus 80 anos de idade na noite de 9 de março de 2016, quando coincidentemente ele lançava, na Livraria Cultura, mais um de seus celebrados livros, escrito que sem imodéstia reproduzo abaixo.
SONETO DOS QUATRO ELEMENTOS
(A JC Teixeira Gomes, no dia dos seus 80 anos – 09/03/2016)
Florisvaldo Mattos
Cansei-me de pensar no que era o dia,
Se ele entre dois crepúsculos se evade.
Cansei de me perder nessa agonia,
Fosse hora calma, fosse tempestade.
Juntei a vida inteira os Elementos
E a cada um dispensei olhar de justo.
Se regem mundos, regem os momentos,
Não conseguem parar o sol injusto.
A Água, a Terra, o Ar, o Fogo, quatro deuses
Que governam e nutrem a Humanidade,
Como me adverte o oráculo de Elêusis.
Não podemos mudar de itinerário.
Ao fim nos resta uma única verdade:
O nosso cabedal é o calendário.

Aí, companheiros Joca (com a garrafa), Guerrinha, FM, Calá e Hélio Oliveira, o moreno

O jornalista Nestor Mendes Júnior publicou, no portal ecbahia artigo sobre João Carlos Teixeira Gomes, em que considerou a sua carreira de jornalista, escritor e de um fiel e entusiasta torcedor do Bahia. Clique aqui.


JOCA E SEU DUPLO

Cláudio Leal


João Carlos Teixeira Gomes (1936-2020) insistiu em ser uma dupla encarnação de si mesmo. Joca, o homem, era passional, aguerrido, de amores pletóricos e opiniões muitas vezes irrefletidas. Joca, o escritor, investia contra as características de sua humanidade: a prosa clara e equilibrada alcançava uma harmonia inexistente em sua alma de jornalista, professor e viajante.

Sua biografia de Glauber Rocha permanece como livro obrigatório para quem deseja conhecer a vida do cineasta, assumindo a perspectiva de testemunho geracional, com aspectos que só Joca, o homem, podia extrair do Glauber cheio de pulsões românticas diante das mulheres, do exílio e da morte. Por sua vez, "Gregório de Matos, o Boca de Brasa" tornou-se um clássico sobre plágio e criação intertextual, admirado pelo poeta Haroldo de Campos e definido pelo medievalista Segismundo Spina como “o mais erudito, mais profundo, mais bem escrito” livro sobre o poeta satírico.

Os volumes de contos e poemas merecem um exame crítico menos acanhado do que o realizado até aqui. O brilho de Joca se manifestou sobretudo em ensaios, a exemplo dos dedicados à história do soneto, Camões, Raul Pompeia, Florbela Espanca e João Ubaldo Ribeiro, que o estimava como melhor amigo. Na Ilha de Itaparica, em desespero com as mil páginas dos originais de “Viva o Povo Brasileiro”, quase desistindo, Ubaldo comoveu-se com uma ordem de Joca: “A tradição do escritor no mundo começa antes da Grécia. Portanto, você tem de assumir a importância do seu papel. Termine o romance”.

A lendária campanha contra ACM, no “Jornal da Bahia” dos anos 70, transformou-o numa presença moral em Salvador. Recordo-me de quando o conheci em minha pré-adolescência. Recém-chegado da Europa, ele citou para meu pai o fragmento de um soneto esboçado numa catedral alemã, em cujas colunas empoeiradas deslizou a mão, obtendo "o sentimento táctil do tempo". Em seguida, coroou-se: "Que verso!". Pois era dado a autoelogios e epítetos. Ao narrar suas façanhas de viajante, dizia-se Leão do Leblon, Tigre da Sibéria, Tubarão da Pituba. Fascinado por outro epíteto pespegado por um amigo carioca, assumiu-se em definitivo como "Pena de Aço".

Dentre todas as suas lições informais, permanecerá aquela paixão acesa pelos livros e pela arte, um impulso radical, pois a cidades longínquas viajou somente por uma ópera, um concerto, uma livraria, uma catedral gótica. Narciso que encontrou no amigo um igual, Glauber pediu-lhe um obituário sintetizado pelos versos de Álvares de Azevedo: "Foi poeta, sonhou e amou na vida". Nada mais Joca. Prefiro lembrá-lo com a abertura de uma ária da “Tosca”, de Puccini: "Vissi d'arte, vissi d'amore". Vivi para a arte, vivi para o amor.

Claudio Leal é jornalista.


Joca, Luis Henrique e a cultura baiana
Paulo Ormindo de Azevedo
Em menos de uma semana a Bahia perdeu dois de seus mais importantes intelectuais: Joca e Luis Henrique. João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, era poeta, ficcionista, ensaísta, jornalista e professor, um dos mais atuantes membros da Geração Mapa, que já havia sofrido as perdas de Glauber Rocha e Calazans Neto. Luis Henrique Dias Tavares era um grande historiador, contista, jornalista, cronista e professor. Seu livro História da Bahia já está na 11ª edição. O que tinham em comuns essas duas figuras excepcionais, além de serem escritores, jornalista e professores universitários?
O fato de terem lutado pelo restabelecimento da democracia no país durante os anos de chumbo. Além de exaustivas audiências a que os dois foram submetidos, Luis Henrique esteve preso durante dois meses pelo fado de sendo Diretor do Departamento de Ensino Superior e Cultura da Secretário de Educação não querer censurar quadros da II Bienal da Bahia. O Secretario, Luiz Navarro de Brito, só não foi preso porque o governador Luiz Viana Filho pediu a interferência do amigo Castelo Branco. Joca não se acovardou e manteve, como redator chefe e editorialista do Jornal da Bahia, dura batalha, durante anos, com Antônio Carlos Magalhães, o que lhe valeu o apelido de Pena de Aço. Seu livro “Memórias das trevas” é um clássico da resistência democrática.
Muitos artistas baianos foram presos como Juarez Paraíso, Renato da Silveira, e Sérgio Passarinho. Outros foram perseguidos, como Chico Liberato, ou tiveram que se exilar, como Caetano e Gilberto Gil. Tudo isso com base no AI-5, que fechou o Congresso e extinguiu o habeas corpus e que Carlos Bolsonaro e Paulo Guedes pedem para ser reeditado.
Não estamos vivendo uma ditadura, mas a cultura voltou a ser discriminada.  A nova diretora da Fundação Casa de Ruy Barbosa, que guarda o acervo dos principais escritores brasileiros, demitiu a diretora executiva da casa, com 26 anos de experiência, e cinco chefes de pesquisa, que eram as ”almas” da instituição. O IPHAN está sendo dirigida por uma técnica em turismo. A Biblioteca Nacional e a Cinemateca estão sem recursos para preservar seus acervos e com os funcionários com salários atrasados. Depois de ser rebaixa do status de ministério para uma secretaria subalterna do Turismo, a Secretaria de Cultura já está com seu sétimo titular, em um ano e meio de governo. Com a pandemia, os artistas, que não podem se apresentar em público, mas fazem lives gratuitos, estão passando enormes dificuldades.
Isto ocorre não só no plano federal. Os museus e o arquivo do Estado estão à míngua e não custaria nada às nossas autoridades, que gastam fortunas com propaganda, publicar uma nota de pesar pela morte de dois dos mais importantes representantes da cultura baiana.

SSA: A Tarde de 28/06/2020


TEXTO ELABORADO PELO JORNALISTA CLÁUDIO LEAL, PARA ATENDER A SOLICITAÇÃO DA OAB NACIONAL, QUE PRETENDE HOMENAGEAR JOÃO CARLOS TEIXEIRA GOMES, NA ABERTURA DA NOVA EDIÇÃO DO PRÊMIO WLADIMIR HERZOG. RECEBIDO POR FM EM 02.07.2020


Caro Flori,
segue o texto via e-mail para facilitar o envio para a OAB.
Conversei com Claudinho, e ele não vê necessidade em enviar dados sobre o autor do texto.
Disse-me que se for necessário, é só avisar.
Com isso, Claudinho cumpriu em tempo recorde a tarefa que lhe solicitamos. E resultou numa bela e rica apresentação.
Acuse recebimento, por favor.
Grande abraço,
Lúcia

De: Claudio Leal <claudioleal1@yahoo.com.br>
Enviado: quinta-feira, 2 de julho de 2020 16:25
Para: Lucia Leão Jacobina Mesquita <lljacobina@hotmail.com>
Assunto: Joca
 


O jornalista e escritor João Carlos Teixeira Gomes (1936-2020), o Joca, viveu um dos episódios mais emblemáticos de defesa da liberdade de imprensa durante a ditadura militar brasileira. À frente do Jornal da Bahia, em Salvador, Joca sofreu uma perseguição cerrada do então governador Antonio Carlos Magalhães, o líder civil da ditadura na Bahia, que utilizou métodos clássicos de asfixia do jornalismo crítico – das pressões sobre anunciantes aos cortes de publicidade estatal e ameaças pessoais. De temperamento autocrático, nada afeito a críticas a suas gestões, ACM centralizou em Joca a sua pressão para domesticar o jornal baiano. De 1969 a 1976, a perseguição permanente proporcionou momentos de afirmação da liberdade que inspiraram gerações de jornalistas baianos e brasileiros em geral, pois o caso passou a ser acompanhado por veículos da mídia nacional, sem excluir as entidades corporativas, como a ABI. Em 2001, Joca lançou suas memórias dessa fase dramática: “Memórias das Trevas - Uma Devassa na Vida de Antonio Carlos Magalhães” entrou, tão logo foi lançado, na lista de livros mais vendidos do país, mantendo-se nesse posto por várias semanas. 

Fundado em 1958 pelo ex-militante comunista João Falcão, o Jornal da Bahia mobilizou uma brilhante equipe de jornalistas e escritores para tocar um projeto moderno, sob inspiração das reformas editoriais e gráficas empreendidas na imprensa carioca, sobretudo no Jornal do Brasil. Pela redação do Jornal da Bahia, localizada no centro de Salvador, passaram nomes como Glauber Rocha, Florisvaldo Mattos, João Ubaldo Ribeiro, Sebastião Nery, Ariovaldo Matos, João Batista de Lima e Silva, Orlando Senna, Tom Zé, José Gorender, entre outros. Em sua trajetória de jornalista e professor, Joca prestou ainda grandes contribuições aos estudos literários, a exemplo de seus livros “Camões Contestador e Outros Ensaios”, de 1978, “Gregório de Mattos, o Boca de Brasa”, de 1985, “A Tempestade Engarrafada”, de 1995, além da biografia “Glauber Rocha — esse vulcão”, de 1997, e do romance "Assassinos da liberdade", de 2008. Era, sem dúvida, uma das mentes mais bem equipadas para dirigir a redação do Jornal da Bahia.

No final dos anos 60 e início dos anos 70, o redator-chefe não abafou denúncias sobre as gestões de ACM à frente da prefeitura de Salvador e, depois, do governo do Estado, rompendo a habitual submissão de jornalistas aos prepostos locais do regime militar, logo após o Ato Institucional N.5, que restringira brutalmente os direitos individuais no país. Assumindo a missão de jornalismo crítico, fiscalizador dos desvios de poderosos, o Jornal da Bahia denunciou arbitrariedades de ACM e casos de corrupção na esfera pública. Nenhuma reportagem produziria tanto estardalhaço e reações hostis quanto a que foi estampada em julho de 1972, a respeito do favorecimento fiscal da empresa Magnesita S/A pelo governo: “Governador favorece firma da qual ele próprio é acionista”. Num gesto de abuso de poder, ACM decidiu processar o redator-chefe, e não o diretor do jornal, enquadrando-o no artigo 36 da Lei de Segurança Nacional, por ofensa a sua honra. Era a mesma lei que pretendia enquadrar os subversivos por ameaças à ordem político-social, no auge da repressão a dissidentes. Em pleno governo Médici, o mais obscurantista da ditadura, ACM recorria a uma lei autoritária para assediar a imprensa livre e indispor o jornalista com os militares.

Joca foi levado então à Justiça Militar, sendo defendido pelo advogado Heleno Fragoso. Num gesto de solidariedade, outros órgãos da imprensa nacional, como “O Estado de S.Paulo”, “Veja” e “Jornal do Brasil”, passaram a acompanhar o processo eivado de absurdos. Em 25 de setembro de 1972, o julgamento do jornalista enquadrado na Lei de Segurança Nacional teve um resultado surpreendente, só explicável pelas divergências políticas internas na ditadura: a maioria do Conselho Permanente de Justiça para a Aeronáutica se julgou incompetente para deliberar o alegado crime. O resultado levou Joca às lágrimas no final do julgamento. A derrota na Justiça Militar não sossegou o apetite de ACM. Sem meios de prendê-lo, o governador passou a pressionar empresas sediadas na Bahia para não anunciar no jornal. Todas essas pressões estão fartamente documentadas tanto em “Memórias das Trevas” como no livro de memórias do proprietário do Jornal da Bahia, João Falcão.

Com a asfixia financeira, o jornal sentiu os primeiros abalos em suas contas. O medo da falência do veículo mais crítico ao governador fez com que os leitores se engajassem numa bela campanha em apoio à imprensa livre: “Não deixe essa chama se apagar”, que cobriu as páginas do Jornal da Bahia, atraindo novos assinantes. ACM não desistiria ainda de derrotar o redator-chefe. Numa operação fracassada, tentou comprar o Jornal da Bahia, que permaneceria em circulação até os anos 90. “A luta do Jornal da Bahia não foi apenas a resistência de um veículo importante, mas de província, contra a opressão local. (…) Foi sobretudo um nobre e belo capítulo da imemorial luta que travam a liberdade e o despotismo. (…) Todas as formas de agressão foram manipuladas para intimidar e destruir o Jornal da Bahia, partidas principalmente de um governante cuja tenacidade demolidora e persecutória não teve paralelos ao longo da ditadura. Nossa reação há de ficar como duradouro exemplo de firmeza, desassombro e coragem, sustentado em tão difícil fase da vida baiana e brasileira, e contém lições que que certamente serão do mais alto interesse não apenas para jornalistas, mas, igualmente, para cultores do Direito, historiadores, homens públicos e cidadãos em geral”, escreveu João Carlos Teixeira Gomes em “Memórias das Trevas”.

A defesa da liberdade de imprensa por João Carlos Teixeira Gomes continua a ser inspiradora num momento em que o país volta a sofrer retrocessos nas relações entre a mídia e o poder federal, sem falar das constantes ameaças à democracia e ao estado de Direito. As histórias de Joca e do Jornal da Bahia representam dignamente o universo mais vasto de lutas incessantes pela preservação das liberdades democráticas no Brasil. Sua chama não se apagou.




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