quarta-feira, 4 de março de 2020

TRÊS PASSOS NA ARTE DA APROPRIAÇÃO CRIATIVA


Larry Tesler, cientista da computação do Vale do Silício, nos EUA, inventou comandos resumidos em três passos - cortar, copiar e colar -. que estabeleceram novos mecanismos por demais influentes na criação literária e artística, sob a forma de apropriação, nos últimos decênios. Clique aqui.

Apresentação do artigo do jornalista Cláudio Leal, publicado na Folha de SP, edição de 03.03.2020, no Facebook. segue abaixo.

NO MUNDO ESNOBE DA INTERTEXTUALIDADE

Há quem diga que, no âmbito do jornalismo cultural muito pouco se escreve e publica hoje que acrescente algo novo à mente de comunicadores e perceptores de poesia, literatura e artes em geral, mas pode haver a qualquer momento surpresas, como o artigo que hoje publica o jornalista baiano Cláudio Leal, abordando o quanto de inovador introduziu no processo criativo das letras e das artes o mecanismo de cortar, copiar e colar, no computador, criado pelo cientista americano da computação Larry Tesler, morto há poucos dias.
O artigo traz muito de perscrutante e revelador, até mesmo com experiências surgidas no curso dos tempos, como no caso das elocuções do grande poeta baiano Gregório de Mattos, que no século XVII eram vistas como plágio, mas hoje passam a ser chanceladas como meras apropriações, que nada têm de plágio. E há mais, em múltiplos campo da criação artística.
Um outro ponto que me chamou a atenção foi a referência a um poema do dadaísta Tristan Tzara, com a irônica receita de como imaginar e escrever um poema dadaísta. Isto me levou a ensaio que escrevi sobre o movimento Dada (1916), publicado em edição da revista da Academia de Letras da Bahia, que parece não se ter findado ao completar-se seu centenário, muito pelo contrário, levando para adiante o próprio século XX, nas letras e nas artes. E para mim não parou, continua empurrando-o para a frente.
Ao fim desse citado ensaio, entre outras ilustrações, publico o poema de Tzara, entre outras ilustrações, aproveitando para reproduzi-lo abaixo, juntamente com o link do artigo de Cláudio Leal.
PARA FAZER UM POEMA DADAÍSTA
(Receita de Tristan Tzara)
Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo
do tamanho que você deseja
dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção
algumas palavras que formam
esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro
na ordem em que elas são tiradas do saco.
Copie conscienciosamente
O poema se parecerá com você.
E ei-lo “um escritor infinitamente
original e de uma sensibilidade charmosa,
ainda incompreendido pelo vulgo”.
(Trad. Gilberto Mendonça Teles)

Florisvaldo Mattos. Facebook, 03.03.2020.

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