domingo, 9 de fevereiro de 2020

BACCHUS - DE ANDRÉ CHÉNIER, COM TRADUÇÃO

             BACO, pintura do barroco italiano Caravaggio

EVOEH BACO!

André Chénier foi um jovem poeta francês, que esteve por toda a sua curta vida embevecido pela Grécia, sua mitologia e sua poesia. Morreu guilhotinado, em Paris, em 1794, aos 32 anos, em plena era do Terror, condenado por insurgir-se contra os atos da revolução francesa, atacando em jornais figuras destacadas do movimento que desencadearia o processo da modernidade na Europa e daí para o mundo, especialmente Marat.
Pois não é que, anteontem, apareceu nesta plataforma um de seus famosos poemas, "Bacchus", postado pelo blogueiro Raul Vieira Nogueira, tradutor e amante da poesia em várias línguas, numa postura de incentivo e enriquecimento cultural, mas neste caso somente o original, sem tradução.
Como a partir de janeiro, Salvador parece mergulhada numa atmosfera em que Baco reinará confortavelmente até o fim do Carnaval, encantei-me com o poema, não só por sua elocução fortemente mitológica, mas principalmente porque em dois de seus versos aparecem as Bacantes montadas em árdegos cavalos, cantando "Evoeh Baco!"
Então, vi que era o momento de buscar uma tradução para o poema e fui propô-la justamente a uma especialista na tradução em francês, já de muitas vezes presente em publicações, a professora e ensaísta Celina Scheinowitz, que atendeu ao convite com a gentileza e a prestatividade de sempre.
É o que vai abaixo: o poema de Chénier e a tradução para o português. Como ilustração, só podia ser o deus Baco, do italiano Caravaggio.

BACO

André Chénier

Vem, ó divino Baco, ó jovem Tioneu,
Ó Dionísio, Evan, Iaco e Leneu;
Vem, tal como apareceste nos desertos de Naxos,
Quando tua voz sossegava a filha de Minos.
O soberbo elefante, presa de tua vitória,
Com seus destroços formara tua carruagem de marfim.
Com pâmpanos, com uvas docemente acorrentado,
O tigre de flancos largos com manchas sulcado,
E o lince estrelado, a pantera selvagem,
Levavam a passear contigo tua corte nesta margem.
O ouro reluzia em todo lugar nos eixos de tuas carruagens.
As Menades corriam com longos cabelos soltos
E cantavam Évoé, Baco e Tioneu,
E Dionísio, Evan, Iaco e Leneu,
E tudo o que para ti a Grécia doou de belos nomes.
E a voz das rochas repetia suas canções;
E o tambor rouco, os címbalos sonoros,
Os oboés retorcidos e os duplos crótalos
Que agitavam dançando no teu ruidoso caminho
O fauno, o sátiro e o jovem silvano,
Ao acaso reunidos em volta do velho Sileno,
Que, sua taça na mão, da margem indiana,
Sempre ébrio, sempre débil, cambaleando,
Passo a passo avançava montado em seu asno indolente.
Tradução de Celina Scheinowitz.

BACCHUS

André Chénier

Viens, ô divin Bacchus, ô jeune Thyonée,
O Dionyse, Evans Iacchus et Lénée,
Viens, tel que tu parus aux déserts de Naxos
Quand ta voix rassurait la fille de Minos.
Le superbe éléphant, en proie à ta victoire,
Avait de ses débris formé ton char d'ivoire.
De pampres, de raisins mollement enchaîné,
Le tigre aux larges flancs, de taches sillonné,
Et le lynx étoilé, la panthère sauvage,
Promenaient avec toi ta cour sur ce rivage.
L'or reluisait partout aux axes de tes chars.
Les Ménades couraient en longs cheveux épars,
Et chantaient Evoé, Bacchus et Thyonée,
Et Dionyse, Evan, Iacchus et Lénée,
Et tout ce que pour toi la Grèce eut de beaux noms ;
Et la voix des rochers répétait leurs chansons,
Et le rauque tambour, les sonores cymbales;
Le hautbois tortueux et les doubles crotales,
Qu'agitaient en dansant sur ton bruyant chemin
Le faune, le satyre et le jeune sylvain,
Au hasard attroupés autour du vieux Silène,
Qui, sa coupe à la main, de la rive indienne,
Toujours ivre, toujours débile, chancelant,
Pas à pas cheminait sur son âne indolent.

BACO

 André Chénier (1762-1794), de Idylles

 Venha, ó divino Baco, ó jovem Tioneu,
 Ó Dionísio, Evan, Iaco e Leneu;
 Venha, como você apareceu nos desertos de Naxos,
 Quando sua voz tranquilizou a filha de Minos.
 O elefante soberbo, presa da sua vitória,
 Dos seus detritos formou sua carruagem de marfim.
 Videiras, uvas suavemente acorrentadas
 O tigre com flancos largos, de manchas sulcadas,
 E o lince-estrela, a pantera selvagem,
 Caminhava com você e sua corte nesta costa.
 O ouro brilhava em todos os lugares nos eixos dos seus carros.
 As Mênades corriam com cabelos longos e espalhados
 E cantaram Évio, Baco e Tioneu,
 E Dionísio, Evan, Iaco e Leneu
 E tudo o que para você a Grécia doou de belos nomes.
 E a voz das rochas repetiu suas canções;
 E o tambor estridente, os pratos sonoros,
 O oboé torcido e os crótalos duplos,
 Que se agitavam dançando em seu caminho rumoroso
 O fauno, o sátiro e o jovem bosque,
 Aleatoriamente reunidos em torno do velho Sileno,
 Que, sua taça na mão, da costa indiana,
 Sempre bêbado, sempre débil, cambaleando,
 Passo a passo andou em seu burro preguiçoso.

(Tradução de Heloísa Prazeres, poeta, ensaísta e professora, a partir de versão para o inglês do poema de André Chénier, à guisa de exercício lúdico).

Nenhum comentário:

Postar um comentário