terça-feira, 5 de agosto de 2014

APOGEU DOS VAGÕES


Noturnos vagões carregados de amargura
de empilhados produtos e origens,
correi sobre horizontes dos dias!

Composição de espanto corrosivo
acerca-se de mim, vai penetrando
com violência em meus olhos. Vence-me
a carne e os nervos, minha voz,
meu desesperado sangue e cansaço, como
fantasma criminoso que, alta noite,
entrasse em minha casa fortemente
nutrido de perigos e desastres.

Negros, armados de geometria difícil,
rota economia de outonos ressentidos,
duram interiores funerários
sobre sacos sombrios e carregadores.
Barris de angústia, lento soluço,
arrastando gemido sobre trilhos,
correi, sempre correi, sombra
afogada na sombra de sangrento galope.

Confuso grito e fúria registrando
velocidades e pressentimentos,
avançai contra noites, contra os dias,
noturnos vagões, consistência
de amarguras espessas e ferragens,
cruel fome de rodas gira-mundo.
Maria Fumaça II, de Wellington Villela, pintura a óleo sobre tela.

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